Esta segunda-feira, quatro anos após a data originalmente marcada, o músico e escritor Chico Buarque recebe o Prémio Camões. Decorreu hoje (24 abril) a cerimónia em Sintra, na sala de trono do Palácio Nacional de Queluz, como parte da visita de Lula da Silva a Portugal. O Presidente da República do Brasil co-assinou o diploma do prémio literário com Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa.
O momento solene contou com intervenções de Buarque e dos chefes de Estado de Portugal e do Brasil, bem como Mia Couto, Prémio Camões de 2013, ou Clara Rowland, membro do júri de 2019.
“Valeu a pena esperar por esta cerimônia, marcada não por acaso para a véspera do dia em que os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos”, disse Buarque. “Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.”
“O prémio é de 2019, entregue em 2023, mas diz respeito a todos os anos”, comentou Marcelo Rebelo de Sousa, citando ainda alguns versos de Meu Caro Amigo, tema que Buarque editou em 1976. Lula da Silva reconheceu a distinção como simbólica: “Se hoje estamos aqui para essa celebração da obra do Chico é porque a democracia venceu no Brasil”.
O pianista Mário Laginha finalizou a cerimónia com uma interpretação de Tanto Mar (1975), composição de Chico Buarque que se tornou emblemática do 25 de abril: uma saudação à Revolução dos Cravos a partir do Brasil, que então ainda vivia sob ditadura militar.
A obra literária de Buarque
Chico Buarque, de nome completo Francisco Buarque de Hollanda, é o 31.º laureado do Prémio Camões, considerado a distinção máxima no universo da literatura lusófona. Concedido em decisão unânime pelo júri — Antonio Cícero e Antonio Hohlfeldt (Brasil), Ana Paula Tavares (Angola), Manuel Frias Martins e Clara Rowland (Portugal) —, o prémio visa a sua obra enquanto dramaturgo e romancista.
Buarque é autor das peças Roda Viva (1968), Calabar (1973), Gota d’Água (1975), Ópera do Malandro (1978), bem como dos livros Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite Derramado (2009), O Irmão Alemão (2014), Essa Gente (2019) e Anos de Chumbo (2021).
Na sequência de Chico Buarque, foram distinguidos com o Prémio Camões o ensaísta português Vítor Manuel de Aguiar e Silva em 2020, a escritora moçambicana Paulina Chiziane em 2021, e o escritor brasileiro Silviano Santiago em 2022.