Autor plural e multifacetado, poeta e ficcionista, jornalista e crítico literário, Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco nasceu em Coimbra, a 1 de fevereiro de 1937. O ambiente familiar da sua infância foi calmo, carinhoso e motivante, tendo o seu pai, médico e figura tutelar que anos depois financiaria a edição do seu primeiro livro de poemas, valorizado sempre a importância da cultura na formação pessoal. Assis Pacheco iniciou os estudos em Direito mas depressa transitou para Letras, onde em 1961 se licenciou em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Durante os seus tempos de estudante, experimentou o teatro, tendo sido fundador do CITAC – Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, e do TEUC – Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra. Porém, o gosto e o talento para as letras desviaram-no desta vocação incipiente. Nessa altura, lia compulsivamente e familiarizou-se com a obra de escritores ingleses, franceses e portugueses, entre eles Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Camões. No entanto, foi o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade quem mais o impressionou, chegando a confidenciar que foi o seu Pessoa e o seu Camões, “o poeta da língua portuguesa que me deu o empurrão para o gosto pela poesia”. Por essa altura foi também redator da revista Vértice, o que lhe permitiu privar de perto com o poeta neorrealista Joaquim Namorado e com poetas da sua geração como Manuel Alegre e José Carlos de Vasconcelos.
Depois de cumprir serviço militar, foi enviado como expedicionário para Angola, onde se manteve até 1965. Apesar de estar ainda em África, publicou em Coimbra o primeiro livro, Cuidar dos Vivos, obra de intervenção política e de protesto contra a guerra colonial. Em 1963 o poeta casara-se com Maria do Rosário Ramos, que viria a ser musa inspiradora de muita da sua poesia. Regressado de Angola, o escritor enveredou em definitivo pela carreira jornalística, tendo-se estreado em 1965 no Diário de Lisboa. Ao longo da vida foi colaborador de várias publicações literárias e jornais, tais como África, República, O Jornal (onde foi chefe de redação e fez crítica literária durante uma década), Sete, Jornal de Letras, Musicalíssimo, Record ou Visão. Entretanto, e apesar de revelado ao público em 1963, a poesia de Assis Pacheco mantém-se quase clandestina. Embora parecesse não dar muita importância à sua obra poética, construída nos curtos espaços de ócio que lhe deixava a “profissão dominante” (o jornalismo), no seu íntimo o autor tinha a certeza da importância do que fazia. Assis Pacheco deixou também uma obra jornalística de grande qualidade e originalidade que se dividiu por géneros tão diversos como a simples notícia, a crónica, a reportagem, a entrevista ou a recensão literária (nunca tentou o jornalismo de investigação por sentir que não se inseria no seu leque vocacional). Foi um dos melhores jornalistas prosadores do seu tempo, embora sempre avesso a cargos de direção ou chefia.
Entre as suas obras de poesia, contam-se, entre outros, títulos como Viagens na Minha Guerra (1976), Memórias do Contencioso e Outros Poemas, de 1980 (que reúne “folhetos” publicados entre 1972 e 1980, e em que revela que escreve versos “para retardar o acidente coronário”), Variações em Sousa, de 1987 (que marca um retorno aos temas da infância e adolescência), ou A Musa Irregular (que reúne toda a sua produção poética). Em prosa foi também autor da novela Walt (1978) e do seu único romance, Paixões e Trabalhos de Benito Prada (1993), em que explana a sua vasta cultura galega – o escritor tinha ascendência galega por parte do avô materno, tendo-se tornado um profundo conhecedor da literatura espanhola e sofrido a influência do seu olhar satírico da sociedade. Prosseguiu sempre a publicação, de forma intercalada, de pequenas tiragens em edições de autor que por contingência foram um segredo bem guardado entre amigos, mas que não o impediram de alcançar o estatuto que tem na literatura portuguesa.
Embora nunca alinhado com correntes literárias, Assis Pacheco sofreu porém algumas influências, entre as quais a da geração inglesa de W.H. Auden, Stephen Spender ou Christopher Isherwood. Os seus textos denotam um esforço de investigação e de procura de novas experiências no domínio da língua portuguesa, juntamente com uma intenção subjacente de crítica social. Além de também traduzir nomes como Pablo Neruda ou Gabriel García Márquez, o escritor escreveu ainda textos e diálogos para documentários e filmes, e participou em programas de rádio e de televisão, tornando-se conhecido do público televisivo graças à sua participação e da sua família no memorável concurso da RTP A Visita da Cornélia. O carácter contemporâneo e a força dos seus poemas fizeram com que alguns deles fossem musicados por compositores portugueses, entre os quais Adriano Correia de Oliveira e Manuel Freire. Sofrendo de problemas cardíacos, Fernando Assis Pacheco morreu em 1995, aos 58 anos, à porta da livraria Buchholz. Descritos como sendo de “beleza rara, agreste, preciosa e assumidamente cruel, os seus poemas são límpidos e o seu estilo claro”, e a sua “sintaxe surpreende pelo domínio notável da pontuação, ou da ausência desta, e pela noção da influência desta no sentido, o que conduziu também o poeta a uma escolha cuidada do léxico”.