A segunda noite do Azores Burning Summer foi marcada por uma celebração intensa da música eletrónica, com artistas de destaque a tomarem conta dos palcos e a oferecerem ao público uma experiência sonora diversificada. O festival, que tem vindo a consolidar-se também como um ponto de encontro para amantes da música alternativa, viu nomes como Da Chick, Moullinex e Xinobi transformarem São Miguel num epicentro de ritmos eletrónicos, que variaram do funk ao indie pop, sem esquecer a influência do punk e da disco.
No primeiro concerto da noite, Da Chick, conhecida pelo gingado a pender para o funk e soul, apresentou um concerto mais contido, fazendo ecoar o manifesto de “Good Positivity”, disco editado em 2022 que se assume como uma ode à desaceleração. “Todos nós, mas sobretudo os artistas, vivemos num tempo em que tudo é consumido de uma forma muito mais rápida, e sentimos necessidade de criar com mais rapidez — agora estou à procura do balanço entre o trabalho e o conseguir tirar a cabeça desse mais obscuro”. A mensagem fez-se nítida e, apesar de alguns clássicos como “Funk You Want” ocuparem o palco, canções mais recentes como “Positivity” (que mereceu um medley com “Three Little Birds”, de Bob Marley) ou “Pressure” foram as protagonistas da noite.
No palco ao lado, Isilda Sanches (Antena 3) e Herberto Quaresma (Antena 1) trouxeram a disco-eletrónica para a pista de dança com DJ Sets que cobriram desde música árabe a clássicos da música pop como “Vogue” de Madonna ou “Padam Padam”, de Kylie Minogue. O DJ Pedro Tenreiro, também da Antena 3, ofereceu o abrigo necessário para fugir à chuva com um set convidativo, repleto de ritmos possantes.
O trunfo da noite esteve no responsável pela programação do palco principal: Moullinex, co-fundador da Discotexas, viu no convite de curadoria uma oportunidade para elevar os nomes da editora. Para além da banda formada por Gui Tomé Ribeiro (aka GPU Panic), Guilherme Salgueiro (aka YANAGUI), e Diogo Sousa, trouxe para o palco amigos de longa data — Selma Uamusse e Best Youth —, e programou Da Chick e Xinobi (com quem partilhou o DJ Set que fechou a noite).
“São Miguel é um local especial, tão especial que é o único concerto que estou a tocar como Moullinex Live este ano”, revelou Luís Clara Gomes. Durante Moullinex Live, participações curtas mas marcantes de Ed Rocha Gonçalves e Catarina Salinas, que trouxeram o indie pop dos Best Youth com uma camada eletrónica, e de Selma Uamusse que, vestida a rigor para o mote da bola de espelhos, cantou “Ngoma Nwana”, canção do álbum de 2021, “Requiem for Empathy”. Sempre radiante, não partiu sem antes deixar a sua homenagem a Sara Tavares, fazendo ecoar o verso sonante de “Minina di Céu”, canção tocada na íntegra momentos antes.
As nuvens carregadas pareceram estar à espera do final do set que ocupou o momento mais intenso desta última noite, mas ainda havia muita água ainda por correr. Xinobi regressou ao palco do Burning Summer seis anos depois, trazendo ao palco principal a sua eletrónica que, confessa, tem origens no punk, “que é uma ótima forma de entrar na música sem ser virtuoso”. Nos 17 anos de Discotexas, editora que co-fundou com Moullinex, sublinhou à Antena 1 a experiência surreal de poder estar à frente de uma editora musical e manifestou alegria em voltar ao “anfiteatro no meio da natureza” que é o palco principal do festival. Pisou o palco mais do que uma vez: primeiro em nome próprio, depois num b2b colega da editora Discotexas.