Numa pequena praia na costa norte da ilha de São Miguel (Açores) uma discreta agitação toma conta do lugar por um punhado de dias a cada ano que passa. Com uma história que recua a 2015, o Eco Festival Azores Burning Summer criou já um hábito de juntar à música (afinal o tutano comum aos festivais de verão) a uma série de práticas, tendo a preservação do ambiente na linha da frente das preocupações. Na primeira emissão especial que a Antena 1 fez a partir do recinto do festival, bem perto da Praia dos Moinhos, no Porto Formoso, o seu responsável, Filipe Tavares, explicou como a ideia nasceu e como, do lixo ali deixado pelos que passaram pelo primeiro evento nasceu a vontade de continuar a desenvolver o projeto tendo em conta a harmonia com o espaço, o bem estar de quem o visita e também o de quem o habita, assim como a sustentabilidade com que um evento destas características pode ser realizado. Integrado na programação, um projeto de saúde comunitária, que visa como principais intervenções a criação de uma literária da saúde, a promoção da atividade física e a abordagem de temas tão importantes como a saúde mental e o desenvolvimento pessoal foi explicado nesta emissão por Sara Ponte, que integra o Vive, criado em conjunto pela ARTAC — Associação Regional para a Promoção e Desenvolvimento do Turismo, Ambiente, Cultura e Saúde, em parceria com a Junta de Freguesia e Paróquia do Porto Formoso.
Em plena zona reconhecida pelo cultivo do chá, esteve na emissão José António Pacheco, da Fábrica de Chá do Porto Formoso, uma das duas que ainda operam na ilha (uma responsável pela Fábrica de Chá da Gorreana estará presente na emissão do Maré Alta, que este sábado será feita a partir da Praia dos Moinhos). Connosco esteve também Maria das Mercês Pacheco, guia-intérprete, tradutora e autora do livro Viajantes nos Açores, O Olhar Estrangeiro sobre as Ilhas desde o Século XVI, que notou como a atual realização de vários festivais por todo o arquipélago junta novas gerações de viajantes a uma história que se conta desde os tempos da descoberta e povoação das ilhas. Luís Banrezes, editor discográfico, juntou à conversa mais um olhar sobre os festivais de música e o modo como têm contribuído para a cena musical local, que é de resto a matéria prima que ele mesmo procura fixar nos lançamentos da Marca Pistola.
A música começa só hoje a chegar ao recinto do festival, mas já ontem o DJ Zelecta passou discos na praia, tendo antes explicado na emissão da Antena 1 o seu percurso pessoal que parte de Amarante e do trabalho como arquiteto para um cenário atual de vida nos Açores.
Também antes da música o cinema começou por marcar a programação desta edição do festival com a exibição de Entre Ilhas, um documentário da socióloga Amaya Sumpsi (que foi criado como consequência de um doutoramento em antropologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) no qual observa como o mar é importante elo de ligação entre gerações de quem vive e passa pelos Açores. O outro filme exibindo no festival foi Cesária Évora, documentário de Ana Sofia Fonseca que evoca a figura da mítica cantora cabo-verdiana através de novas entrevistas, imagens captadas em Cabo Verde e uma coleção de material de arquivo que, em conjunto dão conta de não só de um percurso na música mas também a dimensão pessoal que, de certa forma, moldou o canto daquela a quem o mundo se habituou a referir como a diva dos pés descalços.