Julho arranca com o 80.º aniversário de uma vocalista que definiu a música rock desde o final dos anos 1970. Cantautora, sex symbol, atriz, figura iconográfica: falamos de Debbie Harry, cara e voz dos Blondie, banda responsável por êxitos como “Heart of Glass”, “Call Me” e “The Tide Is High”. João Gobern dedica-lhe, ao longo desta semana, um especial em cinco capítulos, para ouvir até sexta-feira (4 julho), pelas 9h35 – com repetição pelas 15h15.

Entre a biografia e a discografia, conta-se a história de “uma vida em que subiu a pulso, com sobressaltos e episódios bizarros, e uma atitude que desbravou caminhos para as mulheres na música.” Em entrevista à Antena 1, Gobern recorda a emergência de Debbie Harry, anos depois da morte de Janis Joplin e da decadência de Grace Slick (dos Jefferson Airplane). “Quando Portugal embarcou na onda gigante da new wave“, recorda o jornalista, “a presença de Debbie Harry à frente de um colectivo masculino” foi marcante:
Ainda por cima afirmando uma imagem agressiva mas elegante, assertiva mas sedutora, a juntar ao carisma e à voz (elemento nem sempre levado em linha de conta), tudo isto junto, valeu caminhos desbravados para um certo reequilíbrio entre os géneros. Miss Harry concorreu directamente com os vocalistas homens – e não raramente ganhou-lhes aos pontos.
Se “seria ingénuo não reconhecer que o sex appeal lhe valeu, em muitos momentos, uma espécie de salvo-conduto”, ressalva, seria “profundamente redutor” cingi-la a um símbolo sexual, “para quem teve a coragem de alterar o estabelecido, de ajudar a acabar com preconceitos musicais (o abraço contra-corrente ao disco-sound e aos balanços tropicais), de impor uma imagem forte e de dimensão planetária. O tempo poderia ter-lhe feito justiça, mas não estou certo que isso tenha acontecido como deveria” – e este especial reivindica todas as dimensões de Harry que podem ter sido negligenciadas, como “ainda acontece com muitas mulheres que se expressam no domínio da arte”.
Não há apenas um momento definidor na carreira de Debbie Harry: da “decisão de deixar New Jersey e a procura de uma impressão digital em Nova Iorque” aos “anos de resistência e vida difícil até chegar à linha da frente”, dos “tempos de afirmação dos Blondie, que lutaram mais do que gozaram” aos seus papéis no cinema… E tão-pouco se restringem às décadas de 1970 e 1980: “a recusa de fazer regressar os Blondie se não houvesse canções novas e se essa retoma se fizesse só com base nos êxitos antigos” ao lançamento de Face It (di-lo Gobern: “uma das melhores autobiografias que conheço”).
“E, confesso, ainda estou à espera do disco de 2025, para perceber até onde pode ir uma rocker com 80 anos…” Enquanto o novo álbum não nos chega aos ouvidos, temos a história e a música de Debbie Harry resumida em cinco episódios.