
Capa de “Uádi” (2025), álbum de RAIA.
O projeto RAIA lança, a 26 de setembro, o novo álbum “Uádi”: um disco-rio, que atravessa as margens da Raia Ibérica, feito de encontros e contaminações, onde a viola campaniça se deixa tocar por outras geografias, outras linguagens, outras mãos.
“Uádi” nasce num território povoado por aquilo a que o filósofo Timothy Morton chama de hiperobjetos — realidades tão vastas que escapam à nossa compreensão total — como o clima, os oceanos, o tempo profundo. Estão sempre à nossa volta, moldam as nossas vidas, mas nunca conseguimos vê-las por inteiro. A viola campaniça dá voz a um rio subterrâneo, invisível à superfície, mas sempre presente.
A música evoca desertos que avançam, chuvas que se retraem, ciclos de abundância e escassez que ultrapassam qualquer fronteira humana. Tal como um hiperobjeto, “Uádi” é local e global ao mesmo tempo: fala da raia alentejana e, simultaneamente,
de um planeta em mutação.
Em “Uádi” não há uma paisagem “pura” ou “romântica”. Há um território vivido, atravessado por rios que secam, climas que mudam, memórias culturais e vozes contemporâneas. A viola campaniça deixa de ser apenas símbolo de tradição intocada e transforma-se num veículo vivo, que atravessa eletrónica, colaborações e sonoridades híbridas.
“Uádi” mostra que a “natureza” não está fora de nós: somos parte do mesmo fluxo — do som, da terra, do clima, das tecnologias que moldam o presente.
“Uádi” é um canto de pertença a algo maior, imenso e misterioso, que ressoa dentro e para além de nós.