Foi com a possibilidade de exploração do potencial de exposição da música incluída na banda sonora das telenovelas da Globo que, na viragem dos anos 60 para os 70, surgiu a editora Som Livre. Ao mesmo tempo que ia construindo um catálogo (pelo qual cedo surgiram nomes como os de Rita Lee ou Djavan), a Som Livre somava, ano após ano, verdadeiros momentos de sucesso discográfico nas compilações que juntavam as canções usadas nas novelas, muitas vezes surgindo para cada uma delas um disco com o repertório made in Brasil, cabendo a um outro as canções recolhidas entre discografias internacionais. Depois de, na década de 70, terem feito histórias as bandas sonoras de “O Bem Amado”, “Gabriela Cravo e Canela” ou “O Casarão”, entre outras mais, a chegada dos anos 80 fixou no álbum que juntou as canções brasileiras usadas em “Água Viva” outro raro episódio de grande curadoria.
O genérico, que visualmente fez história pela presença nas imagens de pranchas de windsurf (desporto que então gerou entusiasmos em ambos os lados do oceano), era feito ao som de “Menino do Rio”, que Caetano Veloso criara para Baby Consuelo (a voz feminina d’Os Novos Baianos). A canção, nascida num jantar em 1977 no qual estava o surfista José Artur Machado, sobretudo conhecido como Petit (figura que inspirou a letra), tinha surgido recentemente em “Pra Enlouquecer” que, editado em 1979, tinha representado o segundo álbum da carreira a solo da cantora e lhe dado um momento de sucesso maior em nome próprio.
Mas, ao acompanharmos a história dos manos Fragonard (um deles cirurgião plástico, o outro um bon vivant que se vê metido em sarilhos) e de figuras como a socialite Estela Fraga Simpson (Tônia Carreiro), a “alpinista social” Lígia (Betty Faria) ou a “megera” Lourdes Mesquita (papel que definiu o rumo da atriz Beatriz Segall a um modelo de vilã que teria expressão maior, anos depois, como Odete Roitman em “Vale Tudo”), notamos que a música em “Água Viva” não se esgota no genérico (de abertura e fecho), envolvendo uma série de canções com origem em títulos recentes no universo da MPB por nomes como Maria Bethânia (“Grito de Alerta”), Gilberto Gil (“Realce”), Gal Costa (“Noites Cariocas”), Elis Regina (“Altos e Baixos”) ou João Gilberto (numa magnífica versão de “Wave” de Tom Jobim), recuperando também peças já com história como é o caso do “Cais”, de Milton Nascimento, vindo do seu mítico “Clube da Esquina”.