A 7 de setembro de 1943, o estado de Nova Jérsia viu nascer um nome sinónimo de amor-próprio e potência vocal. Este é o dia de Gloria Gaynor, a artista que se tornou num marco do disco sound, e não apenas graças a I Will Survive, uma das canções eternas na história da música popular. A Antena 1 assinala este aniversário pelas 9h40, esta quinta-feira, com a intervenção de Nuno Galopim nas manhãs.
Enraizou-se nos sons da soul desde cedo: não só ladeada das vozes de Nat King Cole e Sarah Vaughan em disco e na rádio, estava próxima de um músico profissional – o pai – e alguns dos seus irmãos cantavam num quarteto de gospel. Contudo, a família não estava ciente do desejo que Gaynor acalentava pelo canto, que começou por concretizar em clubes noturnos por Newark, Nova Iorque e outros pontos da costa oeste dos EUA. É só em 1971, aos 28 anos de idade, que assina contrato com a editora Columbia, mas só quatro anos mais tarde, já no plantel da MGM, edita o seu primeiro álbum.
O lado A de Never Can Say Goodbye, essa estreia em LP, era uma maratona na pista de dança: três canções sem interrupções entre si. Uma delas, a faixa-título (versão dos Jackson 5), fez-se o primeiro número um na Dance Club Songs, tabela de vendas da revista Billboard para medir a pulsação às discotecas. Mas este sucesso não seria confinado aos clubes, alcançando também a rádio e o consumo generalista além-fronteiras. E se também não seria mantido com os álbuns imediatamente seguintes, como Glorious (1977), a verdade é que o grande triunfo de Gaynor estava por vir – e quase passou ao lado dos ouvintes.
De facto, o êxito de assinatura de Gaynor, I Will Survive, esteve para ser apenas um lado B. Em promoção do álbum Love Tracks (1978), o objetivo era vender Substitute – construída numa sessão de gravação mais meticulosa, que chegou às três horas em estúdio. Significava isso que sobravam então 35 minutos para gravar a segunda faixa. O resultado é uma das faixas mais límpidas da era do disco, que Gaynor gravou enquanto ainda recuperava de um acidente rodoviário.
Com o apoio da rádio, I Will Survive tornou-se o single principal sobre Substitute. O resto é história: o topo da tabela de vendas dos EUA, um Grammy e presenças múltiplas em listas das melhores canções de sempre – feitos que a revolta contra o disco sound, em 1979, não conseguiu apagar. Com esta canção imortal, Gaynor assenhoreou-se até dos estádios de futebol; começou com a seleção francesa, cujos adeptos adotaram uma versão alterada de I Will Survive como canto de apoio. Outro sucesso ajudou a ligar a artista à exaltação da autoestima, do ser dado ao manifesto, e ao séquito da comunidade LGBTQIA+: uma versão pop de I Am What I Am (1983), tema do alinhamento de A Gaiola das Loucas, musical então em cena na Broadway.
A voz de Gaynor, hoje mais voltada para a religião, não foi silenciada. Nunca foi tão reconhecido o seu papel como figura de proa na música de dança; continua a gravar música, a solo (venceu em 2020 um Grammy para Melhor Álbum de Roots Gospel) e em colaboração com outras divas, como sucedeu em 2021 com Kylie Minogue. É a glória da sobrevivência, 80 anos depois.