Em 1984, era lançado “O Lado Errado da Noite”, o sexto álbum de originais de Jorge Palma. Quatro décadas depois, João Gobern convida-nos a revisitá-lo com atenção redobrada neste especial em formato podcast — um mergulho num disco que não grita por protagonismo, mas que tem muito para contar. Lançado no ano em que Palma celebra 75 anos, o especial é também uma celebração oportuna e merecida da efeméride.
O que diferencia “O Lado Errado da Noite” do resto da discografia de Jorge Palma? Para João Gobern, “desde há muito tempo – eu diria que desde “Qualquer Coisa Pá Música” e, sobretudo, desde “Acto Contínuo” – que, mais do que grandes mudanças e ciclos muito definidos, o que vai diferenciando os álbuns de Jorge Palma são as canções perenes que ele vai coleccionando. E O Lado Errado da Noite tem várias, como este especial confirma.”
A sua edição, no contexto da década de 80, assume um papel particular na cronologia de Palma: “relevo a fase de grande estabilidade: cinco dos 14 álbuns de originais que assinou foram publicados na década de 80, e três deles em três anos consecutivos (“Asas e Penas” / “O Lado Errado da Noite” / “Quarto Minguante” ). Ou seja, este é, até pela sua localização temporal, um disco-charneira.”
Há em Palma uma continuidade assumida, que atravessa as décadas: “parece-me um autor com mais continuidade – até pelos seus gostos ‘encorpados’ e distanciados das modas – do que rupturas e aggiornamentos. Com excepção do Só, o disco do piano, todos os discos de Jorge Palma valem menos pelas datas e mais pelos ‘dados’.” Uma das razões para o especial é, também, o “relembrar as sessões de gravação de O Lado Errado da Noite”, que João Gobern testemunhou presencialmente.
E como se prepara um programa destes? Com rigor e memória: “tendo em conta a debilidade (e alguns erros crassos) da biografia a que tive acesso, Na Palma da Mão, desta vez recorri muito mais a entrevistas e a recortes de Imprensa, bem como às memórias de conversas e encontros que tive com o protagonista. Isto sem entrar no campo da ‘delação premiada’, que há assuntos e episódios que devem ficar para quem os viveu, se é que me faço entender…”
“O Lado Errado da Noite” é, afinal, um disco que resiste ao tempo e que pede escuta com vagar e atenção. Este podcast é uma forma de o (re)descobrir.