Na semana em que Stevie Wonder comemora o seu 75.º aniversário, a rádio pública dedica-lhe um especial com assinatura de João Gobern. Cinco capítulos que contam como um rapaz pobre, negro e cego contrariou as possibilidades, tornando-se uma das personalidades mais marcantes da música popular da segunda metade do século XX – entre discos, concertos, e uma forte actividade política e social.
Em entrevista à Antena 1, João Gobern diz considerar Stevie Wonder “o mais transformador dos criativos da música negra”, “o maior cantor dos géneros que praticou (e foram muitos), tendo Aretha Franklin como contraponto feminino. Diversificou os temas das canções-hinos que assinou, puxando para a primeira linha as questões políticas e sociais, as homenagens (a Martin Luther King, mais do que a todos os outros).
Juntamente com Marvin Gaye – [no álbum] “What’s Going On” – trouxe, na década de 70, a predominância dos álbuns para uma área musical até então focada nos singles. Misturou superiormente várias escolas, R&B e soul, balada e pop, reggae e sinfónica. E, a nível de arranjos e produção, só mesmo Quincy Jones se equipara nos resultados sublimes. Isto para não juntar ainda a sua incansável acção cívica.
O âmbito deste especial não se limita ao chamado período clássico da sua discografia, entre “Music of My Mind” (1972) e “Songs in the Key of Life” (1976). “Para se perceber o período clássico, é fundamental ter noção de tudo o que aconteceu antes”, explica Gobern, “desde o Little Stevie ao rapaz que tomou em mãos os seus caminhos e o seu destino. Depois, é impossível desvalorizar um disco como ‘Hotter than July’ e algumas canções de génio que vieram depois disso”.