Se hoje a reconhecemos como uma das grandes vozes de todos os tempos, a verdade é que não foi este o primeiro projeto de vida de Nina Simone.
Quando aos 21 anos recorreu ao canto, e não apenas às mãos a deslizarem sobre um teclado, não se tratou de repentina vaidade: foi puro intuito de sobrevivência. Apesar dos golpes da pobreza, do racismo e da rejeição pela universidade, Eunice Kathleen Waymon haveria de ser pianista. Bateu à porta de um bar, que a contratou para entreter a clientela, mas o proprietário não se satisfez com a performance. “Sou apenas uma pianista”, respondeu Eunice/Nina, como recorda na sua autobiografia de 1991. A resposta do patrão determinou o seu percurso: “Bom, amanhã à noite, ou és cantora ou estás desempregada.”
Foi aos 21 anos que começou a trabalhar o timbre que era inequivocamente seu. O timbre que a consagrou como pilar da soul, sem barreiras estilísticas — e muito menos pudores no comentário sociopolítico, antirracista, em prol da luta pelos direitos civis. To Be Young, Gifted and Black ou Mississippi Goddam são dois dos temas que a artista compôs, tocou e cantou para a posteridade.
Hoje (21 fevereiro), 90 anos após o seu nascimento, vamos escutar estas e outras canções — como My Baby Just Cares for Me — num concerto que Nina Simone deu em 1988, na cidade alemã de Hamburgo, no centro cultural Fabrik.