Em 1985 estávamos longe de saber o que hoje sabemos sobre Paddy McAloon e de o imaginar como um dos maiores escritores de canções da sua geração. Há trinta anos o que deles se conhecia era apenas um interessante álbum de estreia, de título Swoon, lançado em 1984 e revelando notas em consonância com alguns focos de criação pop/rock mais apontados a destinos que estavam então a ser traçados entre talentos escoceses que junto dos pólos de Londres ou Manchester que então, entre si, dividiam mais as atenções. Mas é então que surge um segundo disco. Traz o nome de um ator de cinema como título e na foto mostra a banda (no line up de então) junto a uma moto, também aí vincando a relação com o nome de Steve McQueen, citando em concreto o filme The Great Escape, de 1963. E ao ouvir as canções a sensação de revelação, mais nítida do que entre o que “Swoon” mostrara, era incontornável. Algo estava ali a acontecer.
O grupo tinha lançado um primeiro single em 1982, com o título “Lions In My Own Garden: Exit Someone” que juntava palavras cujas primeiras letras escreviam a palavra Limoges, a cidade francesa onde vivia então a namorada do vocalista e compositor Paddy McAloon. Com o tempo, a sua escrita caminhou no sentido de procurar mais que ginásticas de forma e, chegado a “Steve McQueen” revelava uma dimensão filosófica, falando do homem e das suas características e comportamentos.
É contudo na relação entre as palavras e a música que “Steve McQueen” se apresentava como assombrosa nova visão de uma pop capaz de vincar marcas de contemporaneidade e ao mesmo tempo traduzir um sentido de saber e segurança mais habitual entre veteranos que junto de talentos em tempo de revelação. Fizeram a escolha certa na hora de procurar um produtor, chamando ao estúdio Thomas Dolby que, depois de dois brilhantes álbuns a solo, revelara já um apurado sentido na moldagem das canções. Elegantes, capazes de integrar sonoridades características dos sabores pop mais gourmet do seu tempo, como se evidencia em canções como “When Love Breaks Down” ou “Appetite”, ao nível do que um Trevor Horn então talhava com os Art of Noise, as canções de “Steve McQueen” mostravam todavia um saber de vistas ainda mais largas, com temas como “Horsin’ Around” a assinalar flirts com o jazz ou “Faron Young”, a piscar o olho a um irresistível momento rock com sabores country. Tudo isto sem perder nunca um certo protagonismo das guitarras, elegantes, como as que escutamos em “Bonny”, em “Hallelujah” ou “Moving The River”, perfeita canção pop que nunca foi single (e devia).