A surpresa aqui mora, literalmente, ao virar de cada esquina. Caminhando nas entranhas do centro histórico de Loulé, que uma vez por ano é a casa que acolhe as muitas propostas do Festival MED, podemos encontrar um rancho folclórico a dançar, uma pequena orquestra de rua, um cantor com uma guitarra acústica a tocar enquanto o palco ali ao lado não apresenta mais um dos concertos dos cabeças de cartaz… Isto sem falar nas comidas, no artesanato, nas conversas, nos amigos que se cruzam aqui e ali numa noite que raramente lança a âncora num só lugar. Na verdade, para viver o MED há que caminhar. Caminhar a noite toda, visitando palcos que apresentam programações diferentes a horas desencontradas, passando por ruas estreitas cheias de luz, sabores e gente. Muita gente.
A música, mesmo sendo o festival mais do que uma soma de palcos e atuações, é contudo o denominador comum que todos une e convoca. E, na noite de abertura, a diversidade que caracteriza habitualmente os festivais que abrem horizontes às “músicas do mundo” uma vez mais marcou o mapa dos acontecimentos. Do fado de Sara Correia, cuja atuação no Palco Cerca ao cair da noite mostrou de resto que há na voz cantora mais mundos recorrentemente visitados (e a versão de Quero é Viver de António Variações é disso um exemplo) às mornas de Nancy Vieira, que prepara novo disco para lançar no final do verão, do jazz de Miguel Calhaz ou do coletivo reunido por Marco Martins, do convite dos Moonshiners a Samuel Úria à música que faz ponte entre várias heranças e o presente de uns Lavoisier, a noite captou um leque aberto da diversidade que caracteriza os universos musicais da lusofonia.
A dupla do Mali Amadou & Mariam era, logo à partida, uma das apostas do cartaz, mostrando o concerto um alinhamento que bebeu pistas entre os seus discos mais recentes, pelos quais foram tecendo experiências de diálogo entre as suas evidentes raízes locais e as muitas pistas que têm colhido em trabalhos com colaboradores de outras latitudes (tanto na geografia como nos sons). O mesmo palco acolheu ainda nesta primeira noite o veterano jamaicano Horace Andy, figura que ganhou dimensão global através de colaborações históricas com os Massive Attack (que de resto o chegaram a integrar na Melankolic, a editora que a banda criou nos anos 90). Em Loulé, sob atmosferas marcadas pelo dub e outras mais heranças naturais da música jamaicana, Horace Andy motivou uma das maiores enchentes da noite.
Hoje, segundo dia do festival, o cartaz envolve nomes como Banda, Nicola Conte, Pedro Mafama, Monda, La Sra. Tomasa, Aywa, Bandadriatica ou Tomoro, entre muitos outros.