Eram amigos desde os dias da escola. Ambos nascidos em 1941, um deles em Nova Iorque (Arthur, mais conhecido como Art), o outro do outro lado do rio, em Newark (Paul), tinham-se conhecido em Queens em 1953 e cedo começaram a cantar. Apresentaram-se como Tom & Jerry, ensaiavam harmonias vocais e assim viveram os tempos do ensino secundário. Chegada a faculdade, Paul optou inicialmente por estudar inglês, mas começaria desde logo a trilhar um caminho claramente apontado à música, começando a compor e a trabalhar no meio profissional, entregando maquetes a outras vozes e trabalhando com outros autores emergentes como Carole King ou Gerry Goffin. Por seu lado, Art, que também não deixou completamente a música, encarava todavia um futuro universitário, rumando a um eventual curso de matemática (estudaria também arquitetura e belas artes). Os rumos de ambos voltaram a cruzar-se em 1963 e de um já sólido diálogo de vozes e ideias nasceu uma dupla que a princípio se apresentou com Kane & Garr, tendo por palcos uma cena de clubes em Greenwich Village que então acolhia uma muito viva cena folk. A dupla chega à mira de um produtor da Columbia Records (para onde grava já Bob Dylan) e, em 1964, Paul Simon e Art Garfunkel conheciam a sua estreia em disco em “Wednesday Morning 3 A.M.”, um primeiro retrato de uma história a dois que se revelaria um dos casos maiores da década de 60.
O álbum, que traduz ecos diretos das vivências entre a folk sob a qual o reencontro de Simon e Garfunkel se dera em 1963, foi inicialmente coisa quase invisível, sem vendas significativas. Tanto que, após o seu lançamento e sem agitação maior causada, Paul Simon rumou a Inglaterra onde continuou a fazer musica e gravou um primeiro álbum a solo antes de regressar a Nova Iorque onde, tal como o fizera Art Garfunkel, retomou os estudos. “The Sound of Silence”, que curiosamente havia sido a canção tocada na audição para a Columbia Record, começara entretanto a fazer um caminho inesperado no circuito das rádios universitárias longos meses após a edição do álbum. É aí que Tom Wilson, o produtor que com eles gravara “Wednesday Morning 3 A.M.”, resolve usar a mesma abordagem de diálogo entre a folk e a música elétrica que entretanto dera que falar com Dylan e cria uma versão rock da canção que, mesmo perante o choque inicial (sobretudo de Paul Simon), se transformou num sucesso colossal, catapultando para um patamar de êxito global o segundo álbum que então gravam, ao mesmo tempo que arrasta o até então ignorado disco de estreia, entretanto reeditado, para um patamar de grande visibilidade. É então que, além do já popularizado “The Sound Of Silence” (aqui na sua versão acústica original), muitos descobrem canções como “Bleeker Street” (nome de uma artéria central do Greenwich Village) ou uma versão de “The Times They Are A-Changin’”, de Dylan.
Se “Wednesday Morning 3 A.M.”, editado a 19 de outubro de 1964, marca o início do percurso (curto mas intenso) da dupla Simon & Garfunkel, à versão elétrica de “The Sound of Silence” coube o papel de abrir a música a outras possibilidades que o grupo exploraria nos sucessores “Sounds of Silence” (1966), “Parsley, Sage, Rosemary and Thyme” (1966), “Bookends” (1968) e “Bridge over Troubled Water” (1970), os cinco álbuns de estúdio de uma obra que hoje reconhecemos como uma das mais marcantes do seu tempo e que, discograficamente, justifica ainda juntar a estes títulos a banda sonora de “The Graduate” (1968) e o disco que documentou o grande concerto, perante 500 mil almas, no Central Park em 1981. O mundo de versões criadas a partir das suas canções, que junta nomes tão diferentes como os de Bob Dylan, Aretha Franklin, Chromatics ou Sérgio Mendes, sublinha o grande impacte desta obra de vida relativamente breve, mas com a rara capacidade de vencer a erosão que o tempo lança sobre tudo e todos.