As linguagens jazz exerceram um grande fascínio sobre muitos músicos portugueses ao longo do século XX. No entanto, talvez também por vicissitudes da indústria musical, muitas vezes os caminhos trilhados nem sempre puseram esse género musical em primeiro plano. O músico de que hoje assinalamos os 30 anos da morte, Armando Tavares Belo, nasceu em Faro a 20 de Novembro de 1911 e foi de facto um dos pioneiros do jazz entre nós. Na década de 1940, formou o seu próprio conjunto e nele militavam Fernando Albuquerque (trompete), Domingos Vilaça (clarinete), Marques Dias (saxofone tenor), Esteves Graça (trombone), Rafael Couto (contrabaixo) e Artur Machado (bateria), cabendo ocasionalmente a João Andrade Santos o lugar de pianista em vez do próprio Tavares Belo.
Depois de primeiros contactos profissionais com a Emissora Nacional ainda na década de 1930, Tavares Belo é admitido como funcionário em 1946, cabendo-lhe as funções de maestro e diretor da Orquestra Ligeira. Ocuparia este posto até 1982, nuns estoicos 36 anos que atravessam grande parte do Estado Novo e quase uma década já no Portugal democrático. Em disco, é ao lado de uma formação sinfónica que primeiro o encontramos, no início da década de 1950 e no histórico selo Ibéria (do empresário Manuel Simões), com quatro peças inspiradas em motivos folclóricos portugueses, “Fandango”, “Chula”, “Recordações d’Infância” e “Vira do Minho”.
A transição do disco de 78 rotações para o disco de vinil apanha-o em plena ascensão na indústria discográfica nacional. Assim, Tavares Belo é requisitado para acompanhar vozes como as de Alberto Ribeiro, Fernanda Baptista, Simone de Oliveira, Anita Guerreiro, Maria Clara, Madalena Iglésias, Alice Amaro, Rui de Mascarenhas ou, mais tarde, Amália Rodrigues. Sempre disposto a experimentar géneros, acompanhou novos cantores em ritmos rock, bossa nova ou africanos – nesta última vertente, destaca-se o seu trabalho ao lado dos irmãos Anabela e Mário de Melo, que no início da década de 60 gravaram vários discos com música de Cabo Verde. Mas o nome que Tavares Belo mais acompanhou em disco foi o de Maria Pereira, nomeadamente na sua série de discos “Cor É Vida”, de 1960, em que se encontra a canção homónima e que era então o hino da Robbialac.
Tavares Belo colaborou também de forma assídua com a escritora Odette de Saint-Maurice, sendo responsável pela música de muitas das suas histórias infantis – na maioria, gravadas em disco pela Alvorada, sendo que as últimas (inspiradas n’“As Mil e uma Noites”) foram editadas em LP pela Zip-Zip mesmo à beira do 25 de Abril. Dez anos antes, tinha sido também ele o maestro responsável pela direção da orquestra que acompanhou todos os cantores no histórico 1.º Festival RTP da Canção, ganho por António Calvário. Curiosamente, este intérprete dera ainda voz nesse certame a “Para Cantar Portugal”, de que Tavares Belo era co-autor. Esta vertente do seu percurso, hoje menos conhecida, era uma das que mais apreciava, tendo sido responsável também pelos arranjos de repertório para o popular trio Irmãs Meireles.
Texto e programa de João Carlos Callixto
Na versão televisiva do “Gramofone”, João Carlos Callixto prestou homenagem a Tavares Belo, com um excerto de uma interpretação da Orquestra Ligeira e Coro Feminino da Emissora Nacional em 1965 (“Diálogo em Swing”).
Na plataforma RTP Arquivos, veja o episódio de “O que é feito de si?” dedicado a Tavares Belo, realizado em 1991.