Artista plástica, autora, cantora e também ativista (pela paz e direitos humanos), Yoko Ono nasceu em Tóquio a 18 de fevereiro de 1933 e ganhou visibilidade global quando, na segunda metade dos anos 60 conheceu John Lennon, casando com o músico em 1969 e desenvolvendo depois com ele parte da sua obra na música até ao dia em que este foi assassinado, à porta de casa, em Nova Iorque, em 1980. Nesse dia tinham estado em estúdio a trabalhar em Walking On Tin Ice, canção de Yoko Ono que seria editada no formato de single poucas semanas depois e que representa um dos momentos da sua obra evocados neste episódio do Gira Discos que assinala o seu 90º aniversário.
Yoko viveu a infância entre o Japão e os Estados Unidos, e estava a viver em Tóquio quando, no final da II Guerra Mundial, a cidade foi bombardeada. Retomou ali a escola pouco depois. Estudou filosofia no Japão e, ao mudar-se definitivamente para Nova Iorque em 1952, juntou ao seu programa de estudos a poesia, a literatura e a música. Integrada entre a cena artística do downtown nova-iorquino alargou horizontes, conheceu artistas ligados a várias formas de expressão e iniciou um trabalho em várias frentes (entre as quais trabalhos que se podem integrar na então emergente arte conceptual), desde logo incluindo a música entre os espaços que abordou. Data, de resto, de 1961 um programa de música experimental numa das salas do Carnegie Hall no qual participou. Contudo, a sua obra registada em disco só começa a nascer depois do relacionamento com Lennon, com quem grava primeiros discos de música experimental a partir de 1968, mais adiante criando os dois a Plastic Ono Band, ao que se junta uma discografia quer partilhada por Lennon quer a solo (Yoko edita três discos em nome próprio na década de 70). Season of Glass, em 1981, inicia um percurso em nome próprio, que entretanto juntou mais oito álbuns de estúdio e vários discos criados em colaboração.
O percurso evocado neste episódio do Gira Discos passa pelo momento em que os Beatles assinalam o casamento de Lennon e Yoko em The Ballad of John and Yoko (single editado em 1969) e inclui ainda uma entre as canções que John dedicou à sua segunda mulher (Oh Yoko, canção que encontramos no alinhamento do clássico Imagine, de 1971). Mas é sobretudo entre canções de Yoko Ono que se faz o grosso do alinhamento. E aqui tanto entram em cena os seis álbuns editados como dupla entre 1968 e 1984, o último deles, Milk and Honey, já lançado depois ma morte de Lennon, como os discos que, a partir da década de 70, constituem a sua própria discografia a solo. Dos discos editados a dois o alinhamento do programa revista o álbum Sometime in New York City (1972), que corresponde ao primeiro que ambos gravam depois de o casal se mudar para Nova Iorque, e Double Fantasy, editado em finais de 1980, três semanas antes do assassinato de John, à porta do edifício Dakota. Da obra a solo escutamos memórias de Aproximately Infinite Universe, álbum de 1973 co-produzido por Lennon. Dos trabalhos em colaboração o programa passa pelo álbum de 2007 I’m A Witch, no qual Yoko Ono chamou músicos para com ela serem recriadas algumas das suas canções. Ali estão, entre outros, Peaches, Cat Power, os Flaming Lips, as Le Tigre, Anhoni ou Jason Pierce, sendo escutadas no programa as parcerias com os Apples in Stereo e Craig Armstrong, respetivamente em “Nobody Sees Me Like You Do e “Shiranakatta (I Didn’t Know). De Open Your Box, disco de remisturas editado ao mesmo tempo de Yes I’m a Witch, ouvimos a acima referida Walking On Tin Ice, mas numa reconstrução dos Pet Shop Boys. O alinhamento passa ainda pelo mais recente Ocean Child: Songs Of Yoko Ono, disco de tributo do qual escutamos Who Has Seen The Wind por David Byrne e os Yo La Tengo, Born in a Prison do projeto U.S. Girls da canadiana Meghan Remy e ainda Toyboat por Sharon Van Etten.