A decisão surpreendeu os berlinenses na manhã de 13 de Agosto de 1961: o acesso a Berlim Leste estava fechado. E para assegurar a ordem, soldados de seis companhias militares foram colocados de guarda em frente às Portas de Brandenburgo. Não havia ainda muro. Apenas uma divisão da cidade por setores, estes decorrentes da divisão de Berlim pelos aliados em 1945 no fim da guerra. No mesmo dia de agosto de 1961 barreiras era levantadas, com arame farpado. E, pouco depois, um muro com tijolos começa a ser erigido na linha de fronteira. Famílias são então divididas, amigos ficam separados… Sucedem-se as tentativas de fuga, muitas usando prédios na linha de fronteira, entrando pela porta a Leste e saindo, de bagagens na mão, por janelas a Ocidente…
Para evitar fugas a linha de fronteira a Leste foi profundamente delimitada. Com demolições e emparedamentos de janelas. Com o tempo surgem torres de vigia. E, em 1966, uma segunda geração do muro, em betão, sem pontos de apoio para uma eventual escalada, com uma secção cilíndrica no topo sublinha o cenário de uma cidade dividida. Passaram 28 anos até que tudo começou a mudar a 9 de novembro de 1989, marcando o principio do fim da Guerra Fria e terminando quase três décadas de história de uma cidade dividida ao meio. O muro caiu podre, mais cedo talvez do que previsto.
Por um equívoco numa conferência de imprensa de um porta-voz da RDA (a Alemanha de Leste), foi dado a entender que haveria nova política de fronteira em Berlim. A ideia pretendida era uma tentativa de salvar o regime, confrontado com um país sob cada vez mais evidentes sinais de potencial rebelião. As novas regras para fronteiras haviam sido decididas horas antes, devendo a informação para os postos fronteiriços seguir na manhã seguinte… Mas a palavra do porta-voz, que não fora devidamente informado, sugeriu a indicação de que, a partir daquele momento as fronteiras com a Alemanha Ocidental estariam abertas. Milhares de berlineses que assistiam, pela televisão, à conferencia de imprensa, acorreram ao muro. Sem alguém que então desse uma ordem em que sentido fosse, os guardas não responderam… Em poucos minutos o muro era atravessado. Havia pessoas a trepar as paredes. A passar para o lado de lá dos pontos de fronteira… O muro era rompido. Poucas semanas depois seria removido… E um ano depois a Alemanha estava reunificada.
Os 28 anos de vida numa cidade dividida fixaram fixados em filmes e canções. Da “Cortina Rasgada” de Alfred Hitchcock à “Ponte de Espiões” de Steven Spielberg, do “Adeus Lenine” de Wolfgang Becker ao também alemão “A Vida dos Outros” de Florian Henckel von Donnersmarck, é vasta a cinematografia que lembra uma Berlim dividida. Nas canções, do “99 Luftbaloons” dos Nena ao “Winds Of Change” dos Scorpions, passando pelo concerto de Roger Waters que recriou “The Wall” dos Pink Floyd, sob novos significados, junto às cicatrizes do muro, são também muitas as memórias que agora permitem, 35 anos depois, lembrar o que foi a vida de uma cidade dividida ao meio por um muro.