O Centro Cultural de Belém (CCB) celebra 30 anos de existência, tendo iniciado a 21 de março de 1993 a sua atividade como centro de produção de espetáculos e exposições. Apesar de a história da sua projeção e construção ter sido marcada por contestações e controvérsias, aquele que no Portugal de há 30 anos parecia um “sonho ousado” acabou por tornar-se um dos espaços culturais de referência no nosso país. Inicialmente criado para, numa primeira fase, acolher a presidência portuguesa do Conselho Europeu, foi uma obra estratégica dos tempos do cavaquismo que visava também requalificar o que era um parque de máquinas abandonadas da Junta Autónoma das Estradas e um conjunto de edifícios industriais meio arruinados com o objetivo de dotar a cidade de um equipamento múltiplo.
Decidida pelo Governo de Aníbal Cavaco Silva, e lançada em 1987 após a fase de concurso que veio a aprovar o projeto concebido pelos arquitetos Manuel Salgado e Vittorio Gregotti, a construção do CCB teve início no último semestre de 1989 no lugar de maior valor público da capital. Nascia assim o CCB na zona mais visitada da capital e também na mais rica e diversificada em termos de polos de interesse turístico-cultural, numa espécie de simbólico “regresso” à Belém onde D. Manuel mandou construir os Jerónimos e Salazar viu erguer-se a Exposição do Mundo Português em 1940. O projeto inicial previa a edificação de cinco módulos, mas foram só construídos três: Centro de Congressos e Reuniões, Centro de Espetáculos (inclui o Grande Auditório) e Centro de Exposições.
Com um custo de aproximadamente 200 milhões de euros, e ocupando uma área de construção de 97 mil metros quadrados distribuída por seis hectares, o CCB ganhou com o facto de ser uma “microcidade dentro de uma cidade”. Isso contribuiu para que, ao longo do tempo, o público usufruísse de tudo o que o espaço continha e ali quisesse voltar. Mas as “cidades” têm vidas complexas e na história de três décadas do CCB foram muitos os acontecimentos de referência. Desde espetáculos, concertos e exposições, assim como conferências, seminários e momentos políticos, muitos foram os eventos nacionais e internacionais que atraíram ao longo do tempo milhões de visitantes àquele que tem sido um espaço central para revelar a diversos públicos o que se faz na cultura portuguesa e mundial.
Nestes 30 anos, a programação de espetáculos levou aos palcos do CCB desde música, teatro ou dança, com artistas nacionais e estrangeiros de várias áreas, tais como a soprano catalã Montsserat Caballé, a meio-soprano Cecilia Bartoli, a coreógrafa Pina Bausch, o maestro catalão Jordi Savall, os compositores norte-americanos Philip Glass e Steve Reich ou os pianistas norte-americanos Uri Caine e Keith Jarrett. De resto, no campo da música, uma das iniciativas de maior sucesso foi os Dias da Música, uma “festa da família” em que se cruzaram várias gerações que assim tiveram acesso a uma música que habitualmente está confinada a espaços mais formais. Mas a música portuguesa teve também ali um palco de eleição. Foi no CCB que se estrearam os The Gift e atuaram, entre muitos outros, nomes como Maria João Pires, Bernardo Sassetti, Madredeus, GNR, Sérgio Godinho, Jorge Palma, Mariza, Camané, Fausto ou Clã.
Foram muitas também as exposições de relevo quer no Centro de Exposições (até 2006), quer no Museu Berardo (2007-2022). Destacam-se, entre as mais visitadas, as mostras sobre a vida e obra de Frida Khalo ou a exposição temática Aeroespacial. Também muito visitadas foram as exposições Viagem ao Século XX, O Triunfo do Barroco, La Vilette, Passo a Passo – Evolução Humana, Prova de Água ou Pop Art. Grandes exposições de artistas portugueses tiveram também ali lugar, contando-se entre eles Paula Rego, Rui Chafes ou Alberto Carneiro, assim como a exposição Sem Rede, de Joana Vasconcelos (que recebeu quase 170 mil visitantes). Também passaram pelo mesmo espaço algumas individualidades mundiais, tais como François Mitterrand, Bill Gates, o Papa Bento XVI, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair ou a antiga secretária de Estado americana Condoleezza Rice.
Este polo cultural assume-se essencialmente como local de cultura e também de lazer, “onde se pode passar uma tarde em família nos jardins, fazer compras, jantar, fazer um workshop com os mais pequenos, para além de assistir a um bom espetáculo”. Elísio Summavielle, presidente do conselho administrativo do CCB, acredita também que “com toda essa dinamização, aumentando bem as receitas, haverá consequentemente uma subida na fasquia da oferta cultural do CCB, com maior internacionalização” e posicionamento “no mapa dos grandes eventos culturais da Europa”.