Na mesa de trabalho de Joaquim Ruivo, director do mosteiro da Batalha, está aberto um livro de enormes dimensões. Em cada página, na minúcia do traço de James Murphy, um grande desenhador de finais do século XVIII, se revela o esplendor de um monumento entretanto mutilado.
Murphy esteve 13 semanas no Mosteiro, cumprindo a missão que lhe fora atribuída por William Conyngham, seu mecenas. Mais de duzentos anos depois, folheando o grande livro do desenhador irlandês, fica evidente, aos olhos do visitante, que o mosteiro teve mais dois claustros.
Joaquim Ruivo leva-nos pelas tantas vidas de um mosteiro há alguns anos intensamente fotografado por António Barreto para quem este “é um mundo de gente e de surpresas que não acaba”. E mostra-nos as paredes nuas da capela de Santa Bárbara, cujos altares foram levados para outras igrejas, na Covilhã, em Lisboa ou em Peniche.
Cá fora, sentados num murete a dois passos da grande estátua de Nuno Álvares Pereira esculpida por Leopoldo Almeida (que aqui se encontrou com Almada) o director do mosteiro fala do seu gabinete, no corredor do claustro de Afonso V, e lembra que ali já funcionou um posto dos Correios. Depois, é um fio de histórias, entre elas a de uma freira dominicana que o procurou para lhe entregar “dois dentes do Infante Santo”.