1.
Roberto Carneiro fez 77 anos.
A família reuniu-se para o abraçar.
Uma família que sempre ambicionou nos seus melhores e mais loucos sonhos de miúdo.
Roberto foi ministro da Educação durante quatro anos. Entrou no primeiro governo de maioria absoluta de Cavaco Silva e a política nunca pôs em causa a credibilidade antes conquistada.
2.
Mas falava-te da família que ambicionara nos seus mais bonitos sonhos.
Roberto era filho único de um casal feliz, um e o outro de famílias macaenses.
O pai era pianista profissional. Viera para os Açores à boleia de uma fuga ao comunismo chinês, para um católico praticante em pleno maoismo sair da China era a única hipótese
O pai morreu-lhe cedo. Ficou com a mãe e a urgência de sobreviver foi mais forte do que a vontade enorme de também ser músico, a partida do pai tornou inevitável a procura de um percurso mais sólido.
Foi para Engenharia Química no Técnico.
Conheceu Maria do Rosário, irmã de Adelino Amaro da Costa e o resto da história é pública.
Tiveram nove filhos embora tivessem desejado ter 15.
E no seu aniversário da passada semana, todos o foram abraçar.
3.
Roberto Carneiro, pai da maravilhosa Joana Carneiro, conselheira de Estado e uma das figuras maiores da nossa cultura, é um homem que admiro.
Um homem que soube manter, nas mais variadas circunstâncias, a sua capacidade de criar cumplicidades com quem não pensava como ele.
Um homem terno que olha os outros como se todos, ricos e pobres, tivessem o mesmo peso, a mesma importância.
Um homem que sendo de direita, conservador e religioso, procurou sempre que a liberdade de pensamento fosse central.
Um homem que nunca teve medo de palavras que foram perdendo lastro, como amor, amizade e solidariedade.
4.
Roberto Carneiro chegou ao topo como professor, como pensador, como político, como figura que a partir da sociedade
civil soube ser um farol que equilibrasse o dogmatismo dos poderes.
Quando a sua mãe adoeceu e teve de ser internada, um internamento que durou bastante tempo, Roberto visitou-a todos os dias.
Sem faltas, sem desculpas, sem que os compromissos se sobrepusessem – todos os dias ele lá estava.
E agora que está doente e fora do mundo mediático, mantém a sua inquebrantável vontade de viver.
A ver os filhos e netos a crescer.
E a ser visitado todos os dias, como se todos os dias fossem Natal.
Como se todos os dias fossem mais uma oportunidade de agradecer à vida pelo que esta lhe ofereceu.
Como se todos os dias fossem o dia da despedida.
Texto e programa de Luís Osório
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