A depressão Irene tinha deixado marcas nos caminhos, ainda antes de Alpalhão. Havia lençóis de água nos baixios da estrada, as ribeiras de Sor e de Nisa galgavam muros e alagavam os campos.
À chegada a Castelo de Vide, uma névoa densa acompanhava a chuva. Não se via a Senhora da Penha, nem os veados junto à cerca na estrada que circunda o castelo medieval. Mestre Carolino Tapadejo, um velho amigo, deu-me indicações precisas que me permitiram encontrar a casa da técnica agrária Fernanda Mouzinho, para os lados do Barregão.
Fernanda vem abrir ao toque da sineta. A dois passos, uma cabrinha tenta trepar a uma figueira. É a cabrinha Ginja.
Fernanda estudou a arte de não deixar morrer os campos. Quando o novo vizinho alemão fez anos, ofereceu-lhe duas galinhas. Ao longo da conversa perceberemos o que a prende, afinal, a um chão de pedras.
Regressado à vila, encontro Manuela Mendes, engenheira química que dedicou grande parte da sua vida a um sonho desfeito na Robinson, em Portalegre. Destroçada, decidiu abrir uma loja de artesanato, no centro da vila. No dia em que conversámos, estava em cuidados não fosse a chuva ter desassossegado um burro que é a sua menina dos olhos.
Quando a tarde declinou, o velho amigo Carolino Tapadejo levou-me ao “Pirolito”. Foi outra maneira de me levar à sua infância, ao glorioso tempo dos berlindes que se chamavam chapotas e vinham nas garrafas de um refrigerante. À sobremesa, saboreámos anexins.
Eis como longe e perto se confundem, nesta terra que foi de Garcia de Orta, Mouzinho da Silveira, Ventura Porfírio, Salgueiro Maia.