Sampládelicos
“Não nos deixeis cair em tradição”
Especial "Sampladélicos" na Antena 1 com Ana Sofia carvalhêda , sábado dia 6 às 22h40.
Não nos deixeis cair em tradição, não é obviamente um disco, um cd, é muito mais que isso, é uma obra. Um documento para o futuro, uma posição ética e política, uma encenação construída com os conceitos individuais do que é tradição, ou património, ou mesmo música.
Somos educados para dar nome às coisas e para honrar e aceitar muitos conceitos, sem os interrogar, em quase tudo, na arte, na gastronomia, aquilo a que chamamos muitas vezes de senso comum, está muito presente na nossa sociedade.
Os Sampladélicos são só dois*, não tocam baixo, guitarra e bateria, não criam com sons provenientes de “Softwares” para compor música, criam com coisas vivas, com pessoas, com sons orgânicos, muitos com tendência a desaparecer.
O que fazem são colagens vivas das paisagens sonoras de um país: um búzio na ilha do Pico, um tear em Guimarães, uma viola de arame na Madeira, um amolador no Alentejo, bombos das fanfarras dos Bombeiros, mulheres a dançar fandango e adufeiras, poetas populares, polifonia do Minho e de Lafões, Cante Alentejano e cavaquinhos de Braga, conversas sobre o sistema nacional de saúde e bênção de ovelhas na serra da Estrela. Cada uma das faixas é um mundo próprio, uma criação do possível, uma ficção científica da possibilidade de poder haver sons organizados, a que podemos chamar de música, assim, cheios de cor, de vida, nunca respeitando um tempo certo ou uma métrica, pois é trabalho feito por humanos com máquinas a partir de sons de humanos, é sempre imperfeito, mas extremamente complexo.
É também um sonho, uma hipótese, a de podermos dançar e fruir com as memórias, as memórias da infância, das aldeias, das avós, disso a que chamamos memória colectiva de uma região, de um país.
E é sobretudo fazer perguntas, interrogar, espicaçar e “nunca nos deixar cair em tradição”.
*Sílvio Rosado músico e Tiago Pereira documentarista criam uma performance audiovisual a partir das gravações de práticas musicais ou ambientes sonoros de um determinado local. Construindo por um lado um arquivo vivo de documentos de uma música/sonoridade identitária local, que pode ser consultado e que mantêm a memória viva, e por outro lado a desconstrução desse mesmo arquivo/ memória, permitindo que a comunidade se reveja e se questione e ao mesmo tempo criando um espaço lúdico de fruição onde se pode dançar a memória ou seguir uma história.