Em tempo de balanço do que foi a 12.ª edição do Festival Kriol Jazz, que decorreu entre os dias 13 e 15 de abril na cidade da Praia, em Cabo Verde, Djô da Silva, responsável pelo evento (e em tempos manager de Cesária Évora), falou para a Antena 1, começando por sublinhar o momento do regresso, após três anos de silêncio durante os quais, dada a urgência sanitária que o mundo enfrentou, o festival não se realizou. O festival “regressou e o público está aqui. Não como de costume, sabemos que estamos numa época difícil, mas as pessoas estão a regressar ao festival e o ambiente está aqui. A retoma está aqui e espero poder continuar nos próximos anos”, afirmou.
Sobre a identidade do festival, que conquistou já enorme relevância internacional e este ano chamou ao palco instalado no Largo Luís de Camões, no centro da capital cabo-verdiana, nomes de grande plano internacional como os da Orchestra Baobab (Senegal), Dee Dee Bridgewater (EUA) ou Asa (Nigéria), Djô da Silva explicou que “a ideia é trazer a Cabo Verde e à Praia essa mistura de cultura que faz a criolidade”, sublinhando desde logo o nome do festival. E continuou: “Somos criolos, uma mistura de várias culturas. Então queremos trazer essas culturas até nós. O público passa de um grupo ao outro e continua entusiasta, e em cada música encontra algo dele”. E entre propostas que tanto chegavam do Senegal, Mali, Espanha, Brasil, Nigéria, Gabão ou Estados Unidos, figuras de relevo maior da música local como Tcheka ou Lucibela, vincaram a vontade em manter bem firme na programação a presença da música que ali se faz. Djô da Silva notou que “este ano até” houve “menos artistas cabo-verdianos porque” não se realizou “o Kriol Zona, parte do festival que vai a zonas da cidade uma semana antes e aí tem mais artistas locais”. Sobre os nomes locais que regularmente convoca explicou que o festival escolhe “artistas que estão em momento de tournée ou de lançamento de um novo disco para justamente o Kriol ajudar a dar também um impulso para eles”.
O festival está já no mapa de atenções não apenas em Cabo Verde como em outras paragens. Djô da Silva reconhece que este evento vai “fazendo entender ao país” e aos seus “dirigentes que a cultura é importante para o país e pode ajudar a sua economia”. A cultura, sublinha “é um dos produtos mais apreciados pelos turistas e cada vez temos de ter mais conteúdos culturais para oferecer justamente para que o nosso turismo não seja vazio, só de mar e de sol”. Não são poucos os que de facto falam de Cabo Verde como sendo “o” país da música… E o responsável pelo Kriol Jazz reconhece: “sim, é o país onde vivemos música o dia inteiro. Cada cabo-verdiano tem músicos na sua família ou são cantores. Nós gostamos de música, vivemos música”.
A entrevista com Djô da Silva integra o mais recente episódio de Duas ou Três Coisas de João Lopes e Nuno Galopim. Além destas palavras e de olhares sobre a edição de 2023 do Kriol Jazz, este episódio aborda ainda o documentário Cesária Évora de Ana Sofia Fonseca, exibido na Praia naquela mesma semana, integrando a programação da feira Atlantic Music Expo. E visita ainda lugares como a Cidade Velha e o Museu do Campo de Concentração do Tarrafal, espaços que contam episódios da ilha de Santiago.