O artista visual Carlos No tem ligações de infância à Ericeira. O contacto que surge na sua página na internet remete-nos para a rua da Amizade, na povoação de Baleia, perto da vila que foi buscar o nome à grande quantidade de ouriços do mar que havia nos seus areais, ainda que um antigo brasão da Ericeira ostente a imagem de um ouriço-cacheiro. Carlos No é um artista muito respeitado e socialmente comprometido. Vive na baixa de Lisboa mas a cidade antiga foi tomado por uma vertigem que perturba o acto criador. E assim deu consigo a procurar um local propício ao trabalho artístico e encontrou um armazém em Pobral, na estrada que liga a Ericeira a Sintra. Aí montou atelier e aí foi estabelecendo pontes com a vizinhança.
António Ferreira, um pequeno agricultor do Pobral, estaciona com frequência a moto 4 junto ao atelier. António já passou os setenta, nunca teve telemóvel. Responde com frases rimadas. Recorda os tempos em que levava turistas de burro até às praias junto à foz do Lisandro. Garante que “as couves adivinham a chuva”.
Tão longe, tão perto de Lisboa. Uma rua adiante, passando a travessa da Casa Antiga, vive Domicília, que fez pão e o foi vender, durante mais de vinte anos, ao mercado de Mem Martins.
Domicília recebe-nos à sombra de uma cameleira. Já não vai a Lisboa há uns bons sete anos. Foi a Espanha numa excursão. Talvez gostasse de passear uma ou outra vez no Rossio mas a lembrança do ruído, ainda maior que o da moto 4 de António, afasta para longe a tentação.