Não se evoca o nome de Henry Mancini (1924-1994) sem que, imediatamente, algumas memórias com música (e talvez também imagens) ocorram a qualquer um de nós. Do mítico tema que surgiu pela primeira vez em 1963 no genérico da “Pantera Cor de Rosa”, filme de Blake Edwards (com Peter Sellers na sua primeira experiência na pele do inspetor Clouseau) a canções como “Moon River” ou “Days of Wine and Roses” e a uma mão cheia de outros momentos históricos criados para o grande ou o pequeno ecrã, o seu nome atravessou décadas da história da música, do cinema e da televisão. O jazz marcou muitas das criações de Mancini. Todavia, a obra em disco do compositor, arranjador e maestro envolveu ainda um outro espaço no qual teve um peso determinante: o easy listening.
Filho de emigrantes italianos, natural de Maple Heights (Ohio), onde nasceu a 16 de abril de 1924, começou por aprender a tocar flauta aos oito anos, depois, aos 12, juntando o piano a um processo de formação que o levou pouco depois ao universo dos arranjos para orquestra. Com um percurso profissional iniciado em 1946 junto de Glenn Miller (como pianista e arranjador), Henry Mancini encetou em 1952 uma relação mais próxima com os universos do cinema e da televisão. Trabalhava então em música que ficava guardada na biblioteca do estúdio para que pudesse ser utilizada quando necessário. Em 1957 estrou-se em disco com o LP “The Versatile Henry Mancini”, lançado pela Liberty e, por essa altura, contava já vários trabalhos seus no cinema e televisão, porém nenhum deles ainda creditado. Em 1959 o disco com a banda sonora da série televisiva “Peter Gunn” colocaria um ponto final no relativo anonimato. E seria o cartão de visita para uma carreira futura que dele fez um nome maior na história do cinema norte-americano.
Em 1960 o seu caminho cruzou-se com o do realizador Blake Edwards em “High Time”, surgindo um ano depois uma parceria que fez história em “Boneca de Luxo” (a adaptação ao cinema de “Breakfast at Tiffany’s” de Truman Capote), que lhe daria dois Óscares, um pela banda sonora, o outro pela canção “Moon River”. Foram os dois primeiros das quatro estatuetas douradas que conquistou (entre as 18 nomeações que somou ao longo da carreira), curiosamente todos eles com filmes de Blake Edwards, os dois seguintes cabendo a “Days of Wine and Roses” (1962) e à banda sonora de “Victor Victoria” (1984). Aos Óscares juntou 72 nomeações para os Grammys, 20 delas transformadas em prémios, um deles tendo representado, em 1959, o primeiro prémio alguma vez atribuído na (então estreante) categoria Álbum do Ano, por conta de “The Music of Peter Gunn”.
Em semana de centenário o programa “Duas ou Três Coisas”, de João Lopes e Nuno Galopim, cruza-se com vários discos de Henry Mancini, alguns deles ligados a projetos de cinema e de televisão, procurando fazer um retrato de um autor maior na história da música do século XX.