António Variações não estava apto para promover o seu derradeiro álbum. Pouco depois de “Dar & Receber” chegar aos escaparates, o músico natural de Amares foi internado no Hospital Pulido Valente, até ao dia 13 de junho de 1984. O que seria um Dia de Santo António habitual, feriado do padroeiro principal de Lisboa, ganhou um travo de tristeza: foi o dia em que partiu um dos ícones maiores da música portuguesa.
Podemos vê-lo, de imediato, nas imagens que acompanham todo o percurso artístico de Variações: garrido, a pisar o risco entre masculinidade e feminilidade, nunca jogando pelo seguro. Tal tornou-se evidente em palco e na televisão, ou seja, nos concertos e nos telediscos; ironicamente, contudo, “Dar & Receber” não pôde contar com esse apoio. O estado frágil de António impediu a sua divulgação ao nível do que acontecera com “Anjo da Guarda”, o disco de estreia que conhecemos em 1983 – mas isso não impediu que este trabalho fizesse o seu caminho, como todas as obras que recebemos de Variações (incluindo aquelas a que outros deram voz, como os temas que compõem o disco homónimo dos Humanos, de 2004).
Depois de um primeiro álbum vibrante, com sentido de humor e um impulso rock, o sucessor consolidava o forte instinto melódico de Variações, bem como uma visão quase sociológica sobre a natureza humana. Assim é a curta e inesquecível obra de Variações, bem resumida numa das expressões que usa na eterna “Canção do Engate”, da solidão ao encontro, da compreensão ao toque, de dançar com lágrimas nos olhos: uma “aventura dos sentidos”.