É bem verdade que uma série de circunstâncias industriais e comerciais têm contribuído para uma retração muito significativa do mercado do DVD (ainda que seja forçoso recordar que o seu quase desaparecimento em Portugal não corresponde ao que está a acontecer noutros países). O certo é que há quem não desista de continuar a encarar esse formato como uma alternativa importante do consumo cinematográfico. Daí que faça sentido destacar o trabalho que tem sido desenvolvido pela Academia Portuguesa de Cinema, editando em DVD títulos de diferentes épocas, susceptíveis de abrir portas para um melhor entendimento da pluralidade da produção do nosso país.
“Cerromaior” (1980), de Luís Filipe Rocha, e “Dina e Django” (1981), de Solveig Nordlund, são as edições mais recentes da Academia, repondo em circulação dois filmes capazes de ilustrar um período em que, depois dos filmes ainda marcados pelas convulsões políticas e sociais pós-25 de Abril, havia cineastas apostados em diversificar as linhas temáticas e estéticas do cinema português.
Adaptado do romance homónimo de Manuel da Fonseca (publicado em 1943), “Cerromaior” faz o retrato dramático e angustiado de um Alentejo marcado por muitas diferenças de classe, tendo por pano de fundo as notícias que chegam da Guerra Civil, em Espanha. Quanto a “Dina e Django”, nele descobrimos o par interpretado por Maria Santiago e Luís Lucas vivendo uma existência em que a fronteira da lei parece ter desaparecido, expondo um mundo dilacerado em que as utopias se vão decompondo.
Na mesma colecção, encontramos títulos marcantes como, por exemplo, “O Mal Amado” (1974), de Fernando Matos Silva, o último filme português proibido pela censura do Estado Novo, “Oxalá” (1980), de António-Pedro Vasconcelos, um balanço muito pessoal dos primeiros anos da democracia portuguesa, ou “Tempos Difíceis” (1988), uma saga portuguesa que João Botelho realizou a partir da inspiração do romance de Charles Dickens. Sem equecer “As Ruínas do Interior” (1976), de José de Sá Caetano, uma crónica amarga e doce sobre as férias de uma família, em 1943, filme que durante as últimas décadas tinha permanecido virtualmente invisível.
As edições da Academia resultam de um protocolo estabelecido com a Cinemateca Portuguesa para divulgação de cópias restauradas por este organismo. Sem esquecer que a Cinemateca mantém a sua própria colecção, sendo o clássico “Maria do Mar” (1930), de Leitão de Barros, uma das suas edições mais recentes. Em resumo: as memória do cinema português têm nova vida através do DVD.