1.
César Mourão é uma figura admirável por ser tão diferente da larguíssima maioria das estrelas portuguesas.
Em César tudo é inquietude.
Tudo existe como se ainda tivesse de ser conquistado, como se tivesse a necessidade de ir para fora de pé sem boia de salvação.
Nele tudo parece ser absoluto, o tudo e o nada.
O risco em permanência.
A dificuldade de estar no mesmo lugar – mesmo quando os lugares lhe são confortáveis, mesmo quando é líder de audiências e os seus contratos são melhorados, o César nunca está contente com o que tem.
Quer mais.
Quer risco.
Mesmo que perca a seguir.
Mesmo que tenha de gerir invejas ou a possibilidade de fracassar por não saber fazer bem o que se propõe.
2.
Gosto de pessoas que não se acomodam.
Admiro-o, acima de tudo, pela inquietude e pela coragem.
Os fundões para onde mergulha sem boia de salvação, como se a cada momento tivesse de provar o quanto vale a pena.
Ou como se não parecesse dar importância ao que conquistou, ao reconhecimento das pessoas em cada rua, em cada beco, em cada casa.
César Mourão compõe canções.
Canta-as com a sua viola.
Arrisca espetáculos em salas gigantescas.
Tem ideias, toca saxofone e está constantemente a ter ideias.
Ideias para documentários, filmes, peças de teatro, canções, piadas, programas de televisão, rádio, entrevistas, ações humanitárias, papéis que gostaria de fazer, números de ilusionismo ou de malabarismo.
3.
A maioria descansaria, mas César Mourão é obsessivo com o que não fez, com o que não tentou, com o que ainda não conhece.
Sem medo das críticas e dos críticos.
Sem tempo a perder com o que o trava.
Nele o que importa é ele próprio e a sua urgência de continuar a falar com o grilo falante que nunca se cala no seu ouvido – um grilo que lhe diz para ir, para fazer, para arriscar.
Não conheço o César.
Nunca estive com ele e nada conheço do que foi a sua vida antes de ter entrado na nossa vida. Não sei se sofreu, se foi feliz, se brincou na infância ou se teve de se fazer à vida.
Sei que ninguém é como ele.
Excessivo e tímido.
Megalómano e humilde.
Forte e frágil.
Verdadeiramente admirável o César.
Texto e programa de Luís Osório
Ouça o “Postal do Dia” na Antena 1, de segunda a sexta-feira, pelas 18h50. Disponível posteriormente em Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e RTP Play.