1.
Ainda estou inquieto.
Não sei por que o fizeste.
Tantas juras de amor, tantos compromissos assumidos, tantos investimentos feitos a pensar numa vida em comum, tanta felicidade em tantos momentos…
… desculpa, mas não me conformo.
Sei que somos civilizados, que a nossa história deve ser preservada para sempre, mas não consigo evitar esta última carta, este postal.
2.
Parecias tão feliz.
Ainda há uns dias me juraste que ninguém no mundo tinha uma vida tão estável como a tua, que eras um sortudo, um escolhido por Deus, um privilegiado por confiares tanto em mim, por seres tão respeitado por mim.
Ganhámos tantas coisas juntos, meu amor.
Tantas vitórias contra tudo e contra todos.
Nunca te esqueças dos que duvidavam do nosso amor e da nossa capacidade de ganhar um com o outro.
Nunca te esqueças do que tive de arriscar para te ter ao meu lado, para te ver sentado num banco que era simbólico de todos os nossos sonhos e promessas.
3.
Nunca te esqueças do que passámos na pandemia.
Do que festejámos nas ruas de Lisboa.
Nas ruas do país.
Nas ruas dos países em que ouvíamos falar português, milhões de pessoas que nos reconheciam.
Lembras-te dos cochichos?
Nós passávamos e havia pessoas com as lágrimas nos olhos.
Ou cheios de inveja pela qualidade da nossa relação.
Como me podes ter feito isto?
4.
Há uns dias juravas-me que não podias estar mais feliz e estável.
E depois quiseste sair de casa e confessaste à nossa família que a estabilidade não era o único valor.
Apareceu um outro a seduzir-te, a agarrar-te, a oferecer-te joias e ilusões.
E tu foste, Ruben?
Porquê?
O que te fiz de mal?
E por favor responde-me, só desta vez, mas responde-me.
Já saias com ele?
Já tinham conversado nas minhas costas?
Já tinham dormido juntos?
Já pensavas nele nas noites que estavas comigo?
Quando marcávamos golos já pensavas em marcar golos noutra baliza?
Meu amor, meu querido Ruben Amorim.
Quero ainda assim que sejas feliz, mas perdoa-me a franqueza de não torcer nos próximos tempos pela tua felicidade.
Texto e programa de Luís Osório
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