O abalo provocado pela DeepSeek no mercado norte-americano da Inteligência Artificial está a ser entendido em Pequim como uma vantagem competitiva irreparável na guerra tecnológica com os Estados Unidos.
Entro desarmado em território desconhecido, imaginando os generais desta guerra – os estrategas da frente tecnológica – tirando partido não já dos infindáveis recursos da inteligência artificial, mas da imaginação artificial. Imagina.
Tanto quanto leio no jornal digital brasileiro Inovação Tecnológica, estamos no limiar de um estádio superior de luta. Kevin Yager, um cientista norte-americano, propõe a passagem a essa etapa da designada “imaginação artificial” em que tudo acontece no que ele chama o “exo-córtex científico”.
Lido na ligeireza com que é explicado parece simples. É como o xadrez para iniciados. Mexemos convictamente as peças até não termos recuo. É um fascínio assustador, até ao rápido xeque-mate. Por outro lado, não é necessário entrarmos no cérebro de um cientista para o qual somos remetidos pelo professor norte-americano. Não chegaremos à ignição do exo-córtex, por mais imaginativos.
Nem o Álvaro de Campos, cuja imaginação – ele o proclama – é “um Arco do Triunfo” que “assenta de um lado sobre Deus e do outro sobre o quotidiano”. Nem o heterónimo atraído pela engenharia mecânica e pela engenharia naval, voando na asa do exo-córtex com os dados científicos do seu tempo, teria chegado ao abismo para que nos desafia o professor Kevin Yager.
Ou teria? Tomai lá, do Pessoa: “Dizem que finjo ou minto/ tudo o que escrevo. Não. / Eu simplesmente sinto/ com a imaginação. / Não uso o coração.”
Deixai que pergunte: poderá o artificial imaginador sentir com a imaginação, como o poeta? Ou apenas imagina que sente?
Escutai o Pessoa: “Tudo o que sonho ou passo, / o que me falha ou finda / é como que um terraço / sobre outra coisa. /Essa coisa é que é linda”.
Este último verso do Pessoa – “essa coisa é que é linda” – leva-nos à “Inquietação” de José Mário Branco. “Há sempre qualquer coisa que está para acontecer / qualquer coisa que eu devia perceber. / Porquê, não sei. / Mas sei / que não sei ainda”.