1.
Fernando Fernandes não é nome de artista.
Parece mais uma daquelas lojas antigas que foram desaparecendo com o nascimento das grandes superfícies, dos centros comerciais com sol artificial, dos telemóveis que fazem nascer estrelas de manhã para as matar à noite ou na semana seguinte.
Fernando cresceu em Almada e não era como a maioria dos outros meninos.
Tinha qualquer coisa, um brilho nos olhos, uma vontade de ser maior sem saber muito bem o que isso era.
2.
Os pais agarraram em si e foram procurar a felicidade num monte alentejano – Fernando tinha sete anos.
Completou a terceira e a quarta classe na companhia de meninos dos montes e das colheitas, aprendeu com eles as artes da pobreza e o silêncio das planícies contaminou-o com o que precisava para se encontrar com o destino.
3.
O resto é da história.
Fernando Fernandes transformou-se em FF.
Ganhou concursos, encheu salas, vendeu milhares de discos, tornou-se icónico para encenadores, produtores, fazedores de audiências.
Uma estrela.
Mas nele há qualquer coisa que não bate certo.
Qualquer coisa que parece de menos para o talento que tem…
… repara, e és capaz de concordar comigo, eu vejo o FF a cantar, a dançar, a representar e não há ninguém que eu conheça no mundo com mais potencialidades.
Ninguém que eu diga assim, ora aí está um tipo que canta melhor, que é mais camaleónico e mais artista do que o FF.
4.
As pessoas abordam-no, claro que sim.
Tiram selfies, dizem-lhe coisas ao ouvido, lógico que sim.
Mas quando o penso imagino-o na Broadway ou a fazer em Hollywood um remake de “Singin’ in the Rain” ou a ganhar casting atrás de casting em Nova Iorque, Londres ou na Madrid de Almodóvar.
Não me interpretes mal, Fernando.
Espero que não fiques tristes, mas sempre que te penso não te imagino a pisar o mesmo chão que eu piso, vejo-te sempre a voar numa Terra que para ti nunca será a Terra do Nunca.