O que prende pessoas a lugares? As políticas de proximidade, as lideranças autárquicas, os afetos, as empresas, a arquitetura, a mobilidade, a educação, a natureza? Conversas e reportagens de norte a sul do país, no novo podcast da rádio pública, “Porque Vivo Aqui”, com episódios novos às terças-feiras.
Leia as respostas de António Jorge às questões da Antena 1:
Como surge o conceito para este programa? Deve considerar-se, de alguma forma, um programa de lead-up para as autárquicas?
Tinha esta ideia há vários anos, de a partir de um lugar contar como há pessoas que valem a pena ser ouvidas, pelo empenho que têm nas comunidades onde estão inseridas, ou como pensam o mundo, independentemente da geografia que escolheram para viver.
De algum modo, também pode servir para lembrar a relevância de como as politicas públicas de proximidade são determinantes na qualidade de vida, ou muitas vezes da falta dela.
O título pode indicar algum patriotismo (as razões para se habitar um sítio), mas no programa fica patente a margem para crítica e escrutínio. Será mais no sentido de falar com propriedade, porque se vive ali?
Não há nenhuma intenção de convocar essa ideia de patriotismo, antes a de provocar a reflexão sobre como há muitos aspectos da sociedade que podem ser melhorados, e como os problemas de um lugar podem encontrar exemplos nas soluções que foram encontradas noutros. A linha do jornalismo de soluções. Há sempre espaço ao escrutínio e às criticas.
O primeiro episódio centra-se em Famalicão, numa conversa com António Cândido de Oliveira em que aflora a questão da democracia local. Porque foi este o primeiro episódio?
Porque este podcast pretende falar de questões de proximidade, e pareceu-me que em ano de eleições autárquicas era interessante ouvir um dos maiores especialistas do país sobre o Poder Local. No segundo episódio, outra autoridade em processos de participação cívica, José Carlos Mota. O docente da Universidade de Aveiro identifica quais devem ser os temas prioritários do próximo ciclo de autarcas. Entre eles a questão da integração de imigrantes. Assim, para o terceiro episódio decidi falar com um Belga que reside em Portugal há quase trinta anos, e perceber como ele olha para a sociedade portuguesa, para os defeitos e virtudes que tem. Além disso, porque a questão da habitação é central nos nossos dias, ele conta também como com a namorada foram viver para uma freguesia rural de Vila Nova de Gaia e recuperaram uma casa com mais de duzentos anos. Depois, no episódio seguinte, o regresso à terra natal, a Mira Daire de um chef que trabalhou durante vários anos na Estónia, ou seja, há uma espécie de fio condutor entre os dois primeiros episódios e os subsequentes…
Como são escolhidos os entrevistados que representam cada lugar? Que temas podemos esperar com o progredir da série?
Como estava a dizer na resposta anterior, os dois primeiros episódios fixaram o caminho do podcast, depois pesquiso por pessoas e os lugares que possam dar continuidade às ideias identificadas por António Candido de Oliveira e José Carlos Mota, que falava por exemplo, na necessidade de encontrar soluções para quebrar o isolamento da população sénior. Em Viana do Castelo e em Lombo Macedo de Cavaleiros, descobri que o Surf Clube de Viana, dá aulas de surf a reformados, e as turmas têm crescido em numero de participantes. E que em Lombo, uma pequena comunidade de duzentos habitantes, há pelos menos uma dezena de pessoas que têm livros escritos e editados, e que por isso vão realizar a primeira feira do livro de escritores da terra. Este é um outro exemplo de envolvimento das comunidades na valorização de recursos locais. Mas ao longo da série há outros casos, como o trabalho da Associação Pé de Chumbo no Alentejo com as danças tradicionais. Há sempre um protagonista central e depois outros testemunhos que conferem a casa episódio um misto de entrevista e reportagem. O podcast serve também para afirmar o obvio: há pensamento e mundo fora dos grandes centros.