Foi a 16 de setembro de 1985 que Kate Bush editou “Hounds of Love”, o seu quinto álbum de estúdio, e o mais aclamado da sua carreira: uma obra conceptual que não prescinde das melodias insanáveis. A mais celebrada é, sem dúvida, “Running up That Hill”, que voltou a tornar-se um êxito 37 anos depois do seu lançamento – mas há ainda “Cloudbusting”, “The Big Sky” e toda uma suite mais experimental.
Esta semana, a Antena 1 assinala o 40.º aniversário daquele que é amplamente considerado um dos marcos da música pop, com um especial de cinco capítulos. Leia a nossa entrevista com o autor e suspeito do costume João Gobern, e ouça o programa na RTP Play – bem como na nossa emissão, até sexta-feira, pelas 9h52 (com repetição às 14h40 e compacto, no domingo, depois das notícias das 22h).

Numa discografia tão singular (e aclamada) como é a da Kate Bush, não será fácil eleger uma obra-prima – mas será “Hounds of Love” o título mais consensual?
Provavelmente. Com registos muito bons, antes (The Kick Inside e Never For Ever) e depois (The Sensual World e Aerial), dá-se aqui o grande passo em frente. Por três ordens de razões: é aqui que Miss Bush, já com pleno conhecimento e técnica, após as “aventuras” de The Dreaming, assume cabalmente as despesas de produção e de controle de estúdio, sem problemas quanto ao tempo empregue para a busca da perfeição; depois, Bush aplica na prática a sua ideia de ter “o/a instrumentista certo/a para cada momento”, deixando de vez de estar confinada a um núcleo restrito, algumas vezes “sugerido” (leia-se”imposto”) por produtores ou,até, pela editora; por fim, a qualidade intrínseca das canções e da suite “The Ninth Wave” – as primeiras, no lado A, se quiser, impõem-se sem reticências; a segunda requer mais disponibilidade, mas Kate Bush nunca a deixou “cair”, recuperando-a integralmente na série de concertos que realizou em 2014.
O que nos conta “Hounds of Love” sobre o nível artístico, comercial e pessoal em que estava Kate Bush?
Conta-nos coisas bem diferentes, mas que acabaram por convergir para a obra-prima. O nível artístico estava mesmo no “ponto de rebuçado”, mais maduro, mas não menos assertivo, pelo contrário. Comercialmente, valeu um “tudo ou nada”, depois do relativo fracasso comercial do álbum anterior, numa fase em que chegou a ser aflorada a hipótese de despedimento. Felizmente, foi mesmo “tudo”, algo que se percebe até pela longevidade das canções – Running Up That Hill, por exemplo, chegou ao primeiro lugar do top britânico 37 anos depois (1985/2022) da edição original. A nível pessoal, foi o momento em que Bush assumiu a relação, já antiga, com Del Palmer. Não deixou de se reafirmar, ou confirmar, como a chefe operacional indiscutível, entre chazinhos e bolachas caseiras.
Apesar do êxito, é um disco bipartido e bastante idiossincrático. Como quem diz, o lado A é mais imediato e conhecido de todos – mas The Ninth Wave é uma criatura diferente. Como se aborda isto no especial?
De formas distintas. Nos apontamentos de segunda a sexta, mau seria não privilegiar as canções individualmente mais fortes. No programa de fim-de-semana, embora sem espaço para a audição integral, “The Ninth Wave” é devidamente abordada.