1.
Encontrei muitos jornalistas nas ruas por onde fui passando.
Bebi copos, troquei ideias e objetivos, fiz promessas, cumpria-as e quebrei-as, fiz amizades e provoquei ódios, ajudei e fiz cair…
…ah, o jornalismo e as redações…
…o lugar onde fui mais feliz e onde me tornei íntimo da melancolia.
2.
Encontrei grandes figuras.
Aprendi com algumas delas, com outras não.
É uma treta esta coisa de acharmos que os grandes são grandes em tudo o resto, até no caráter.
Não é verdade.
No jornalismo, como em qualquer profissão ou arte, há quem seja um gigante no que faz e um medíocre no que passa aos outros.
3.
Volto ao jornalismo, um lugar difícil, complexo, intenso, absoluto.
Numa redação joga-se tudo.
Quando o jornalismo é à séria vive-se a cem à hora, perdemo-nos e encontramo-nos. Também há quem nunca se perca ou os que se perdendo nunca mais se tornam a encontrar.
Há de tudo como nas boas farmácias.
4.
Quero falar-te do jornalista português que mais admiro entre os da minha geração.
Chama-se Miguel Carvalho.
Um caçador de estórias à antiga.
Rigoroso, obstinado, obsessivo.
Um investigador que nestes trinta anos não perdeu a curiosidade.
Ou a coragem.
Ou se conformou com a ideia de que tinha de se moldar para ter sucesso.
5.
Miguel Carvalho acaba de editar “Por Dentro do Chega”, resultado de vários anos de investigação.
Fê-lo sabendo das consequências que o livro poderia ter na sua vida.
Um livro esmagador e uma lição de jornalismo de investigação.
Além do mais bem escrito – perdemo-nos encantados no seu modo de dizer como já nos perdêramos na sua extraordinária biografia de Amália Rodrigues.
6.
Miguel Carvalho é também uma pessoa inteira.
De uma generosidade que nos pasma pela diferença.
Uma vez perguntei-lhe qualquer coisa sobre uma figura que me interessava e o Miguel enviou-me dezenas de páginas com as informações que tinha.
Todas as que tinha.
“Usa como quiseres, Luís. As notas passam a ser tuas”.
É difícil encontrarmos alguém assim.
É um dos grandes, um dos maiores.
Do tamanho dos imortais que conheci e com quem trabalhei.
Não são assim tantos.
Não são mesmo assim tantos.
Ouça o “Postal do Dia” em Apple Podcasts, Spotify e RTP Play.