A temporada de prémios de cinema que começou já em setembro do ano passado e que desembocará nos Óscares (o apogeu e o culminar de uma série de premiações) está a chegar ao fim, com um conjunto de premiados que ditam tendências e podem até indiciar quais poderão ser alguns dos vencedores dos prémios da Academia de Hollywood. Entre distinções de guildas, círculos de críticos e outros prémios instituídos, há cerca de meia dúzia que são indicadores do que poderá acontecer nos Óscares e também um estatuário dos principais filmes e protagonistas do último ano cinematográfico: Globos de Ouro, BAFTA, Screen Actors Guild (SAG), Critics Choice Awards, Producers Guild of America Awards (PGA) ou Directors Guild Awards (DGA). O cruzamento dos vencedores nestes prémios principais permite não só fazer um apanhado do melhor que se fez no cinema no ano de 2022, mas também antever um pouco, na antecâmara dos Óscares (cuja cerimónia se realiza a 12 de março), do que poderá ser a noite da atribuição das estatuetas douradas.
Desde já, está pela primeira vez a concurso um filme português. Ice Merchants, de João Gonzalez, ganhou o prémio Annie na categoria de curta-metragem de animação (este prémio é considerado o “Óscar da animação” e a mais importante distinção norte-americana do cinema deste género). Nas categorias mais mediáticas há tendências mais definidas e contendores mais renhidos. No caso dos Globos de Ouro (que se realizaram no dia 10 de janeiro), Os Fabelmans, de Steven Spielberg, ganhou o prémio de melhor filme (o que poderá não ser replicado nos Óscares, tendo em conta o bom posicionamento de Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo) e Spielberg arrebatou o galardão de melhor realizador. Mais certa é a vitória de Cate Blanchett nos Óscares pelo seu papel em Tár (ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz), embora a disputa direta com Michelle Yeoh por Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, a sua mais forte concorrente, seja grande – se Blanchett ganhou nos BAFTA (em que oito dos últimos dez vencedores repetiram o feito nos Óscares), Yeoh ganhou nos Screen Actors Guild Awards (em que também oito dos últimos dez laureados ganharam o prémio da Academia na categoria de melhor atriz).
Quanto à categoria de melhor ator, Austin Butler (por Elvis, de Baz Luhrmann) venceu nos Globos de Ouro e nos BAFTA (dois bons preditores) e Brendan Fraser (por A Baleia, de Darren Aronofsky) conquistou os prémios no Critics Choice Awards e do Screen Actors Guild (e já se sabe como Hollywood gosta de um bom comeback como o de Fraser…). Já no caso dos atores secundários, Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo está bem posicionado para ver premiados dois dos seus atores: Ke Huy Quan e Jamie Lee Curtis. O ator vietnamita-americano é o grande favorito nesta categoria masculina secundária dos Óscares, uma vez que venceu o Globo de Ouro, o Critics Choice e o Screen Actors. No caso de Jamie Lee Curtis, as probabilidades de vitória também são consideráveis, dado que triunfou na Screen Actors Guild (também um bom preditor), enquanto outra concorrente direta, Angela Bassett, por Black Panther: Wakanda para Sempre, recebeu o Globo de Ouro e o Critics Choice Award (se ganhar, será a primeira atriz a conseguir um Óscar nesta categoria por um filme da Marvel). Há também dois outros fortes concorrentes nestas duas categorias secundárias: Barry Keoghan e Kerry Condon (ambos ganharam o BAFTA pelos seus papéis em Os Espíritos de Inisherin). Mas há que notar que os prémios da Screen Actors Guild ditam tendências, uma vez que muitos dos que votam na SAG também votam nos Óscares.
Bem posicionados para ganhar as estatuetas douradas de melhor realizador e filme estão também Daniel Kwan e Daniel Scheinert, os realizadores de Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo. Venceram como realizadores nos prémios da Chicago Film Critics Association, nos Screen Actors Guild, Critics Choices, Directors Guild of America e Producers Guild of America (PGA). No que respeita à categoria de argumento original, existe uma quase certeza de que será para Os Espíritos de Inisherin (da autoria de Martin McDonagh), tendo em conta o volume de distinções que já acumulou na temporada de prémios – os do New York Film Critics Circle, National Board of Review, Chicago Film Critics Association, Globos de Ouro ou BAFTA. Já no caso do argumento adaptado, a tendência recai em A Oeste Nada de Novo.
Em relação a outras categorias de relevo, como melhor longa-metragem de animação ou melhor documentário, as certezas são mais seguras e assertivas. Principalmente em relação a Pinóquio de Guillermo del Toro, cujas premiações têm sido quase unânimes (ganhou nos BAFTA, Producers Guild of America, Critics Choice Awards, Globos de Ouro ou Chicago Film Critics Association Awards, entre outros). Quanto ao documentário, as probabilidades mais fortes pendem para Fire of Love, de Sara Dosa (venceu nos Directors Guild of America, Chicago Film Critics Association Awards ou no Critics’ Choice Documentary Awards), mas tanto Toda a Beleza e a Carnificina, de Laura Poitras, como Navalny, de Daniel Roher, são competidores a não descartar (este último sobretudo por motivos políticos).
Resta também algum interesse em tentar prever qual será o vencedor na categoria de melhor filme internacional. Neste caso, a disputa joga-se sobretudo entre Argentina, 1985, do argentino Santiago Mitre, EO, do veteraníssimo realizador polaco Jerzy Skolimowski, e Close, do belga Lukas Dhont. No entanto, tendo em conta as tendências nas premiações dos últimos meses, a balança parece pender um pouco mais para Argentina, 1985 – pelo menos devido ao facto de ter ganho um Globo de Ouro, o que não deixa de ser um preditor digno de consideração.