O Curtas Vilas do Conde regressa este fim de semana e de 8 a 16 de julho a 31.ª edição do festival dedicado à curta-metragem apresentará, nas duas principais secções competitivas (internacional e nacional), um conjunto de 45 filmes. Curiosamente, é uma longa-metragem que abrirá a mostra de cinema de formato breve, com a antestreia nacional de 20 000 Espécies de Abelhas, a primeira obra da realizadora espanhola Estibaliz Urresola Solaguren, cuja jovem atriz protagonista, Sofía Otero, com apenas 9 anos, conquistou o Urso de Prata para Melhor Interpretação na edição deste ano do Festival de Berlim. O filme, que será exibido no sábado, pelas 19h00, e que terá estreia comercial a 20 de julho, é uma emotiva narrativa centrada numa criança com disforia de género que espera pelas férias de verão para se libertar da opressão que sofre na escola.
Este ano a competição nacional, que desde 1995 se tem afirmado como “o principal observatório da produção de curta-metragem em Portugal, permitindo atestar o estado da arte e a vitalidade de produtores e criadores”, e que reconhecidamente se foi consolidando como importante “espaço para a afirmação e reconhecimento de sucessivas gerações de novos cineastas que foram gradualmente renovando o cinema português”, apresenta uma seleção diversificada pontuada pelos regressos de cineastas já premiados no festival, como Basil da Cunha (com 2720) ou Mário Macedo (que concorre com Cul-de-Sac), mas também por habitués como Pedro Neves (Sonhos de Uma Revolução), Pedro Bastos (Flyby Kathy) ou Nuno Amorim (Olha), sem descurar o lugar para os estreantes, de que são exemplo David Ferreira (Campos Belos), Mónica Lima (Natureza Humana) ou Susana Abreu (Vapor). Aliás, em tempos mais recentes, o Curtas Vila do Conde tem sido também espaço privilegiado para a revelação de jovens talentos.
No domínio da competição internacional, que tem primado por juntar num mesmo lugar as novas obras de autores consagrados e de talentos emergentes do cinema mundial, os veteranos estão representados por filmes de nomes como Lucrecia Martel (Camarera de Piso), Carla Simón (Carta a Mi Madre para Mi Hijo), Antonin Peretjatko (Les Algues Maléfiques), Jean-Gabriel Périot (L’Effort des Hommes), Théo Dégen (com Alice and the Sunflowers, correalizado com Charlotte Muller) ou a dupla já experimentada composta pelo alemão Benjamin de Burca e pela brasileira Bárbara Wagner (com Fala da Terra). Já do lado dos novos realizadores, haverá a curiosidade em descobrir as obras das francesas Sarah-Anaïs Desbenoit (Phalène) e Julia Kowalski (J’ai Vu le Visage du Diable), do franco-alemão Lucas Malbrun (Margarethe 89), do egípcio Morad Mostafa (I Promise You Paradise), do chinês Zhang Dalei (All Tomorrow’s Parties), do italiano Francesco Sossai (The Birthday Party) ou da espanhola Irati Gorostidi Agirretxe (Contadores).
A programação de filmes de produção nacional inclui também uma sessão especial com as três curtas que integraram o programa The Factory, exibido no Festival de Cannes e organizado pela Quinzena dos Realizadores, que teve como foco o norte de Portugal: Espinho, de André Guiomar e Mya Kaplan, Maria, de Mário Macedo e Dornaz Hajiha, e As Gaivotas Cortam o Céu, de Mariana Bártolo e Guillermo Garcia Lopez. Mas a colheita portuguesa prossegue ainda com a exibição, na sessão do Panorama Nacional, de Pátio do Carrasco, de André Gil Mata, Naquele Dia em Lisboa, de Daniel Blaufuks, e O Homem das Pernas Altas, de Vítor Hugo Rocha.
Numa das mais recentes secções do festival, Cinema Revisitado, que se propõe manter viva a memória cinéfila, será traçada uma panorâmica da obra do fotógrafo, diretor de fotografia e realizador Augusto Cabrita (1923-1993), com uma série de sessões, conversas e uma exposição que sublinham o seu “olhar atento à expressividade das paisagens, naturais ou industrializadas”. No que toca à memória mais recente, a secção New Voices, destinada a celebrar e destacar as criações de jovens cineastas, lança este ano um olhar sobre as obras do português João Gonzalez, com uma carta-branca que inclui filmes do realizador, algumas escolhas e a exposição Ice Merchants: do Subconsciente ao Ecrã, e contempla também a obra da cineasta basca Estibaliz Urresola Solaguren.
Entre outras secções e programas, e já anunciado previamente, conta-se também o programa In Focus, que se centrará nas obras do romeno Radu Jude e da prolífica realizadora norte-americana Deborah Stratman, de cuja vasta obra o festival vila-condense escolheu uma representativa seleção de 12 filmes, dando-lhe também carta-branca para escolher aqueles que mais a influenciaram ao longo do seu trajeto artístico. Como filme de encerramento, o Curtas Vila do Conde escolheu Retratos Fantasmas, do brasileiro Kleber Mendonça Filho, um documentário que traça um “mapa sentimental” do Recife, terra natal do realizador, que o festival tem seguido de perto. Mais informação sobre o festival está disponível aqui.
Texto de Nuno Camacho
O Curtas Vila do Conde é um dos destaques no episódio do Cinemax desta quinta-feira, para ouvir depois das notícias das 20h na Antena 1 e, posteriormente, em RTP Play.