Quando passam 50 anos sobre a morte de John Ford, a Medeia Filmes promove um curto ciclo dedicado ao realizador. Com início no passado dia 5 e até ao próximo dia 24, este ciclo, intitulado “John Ford – Maior que a Lenda”, exibirá, numa primeira parte, três obras-primas do influente e lendário cineasta. Pelo Cinema Medeia Nimas passarão, ao longo de três semanas, em cópias digitais restauradas, os clássicos Cavalgada Heroica (Stagecoach, 1939), As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath, 1940) e A Desaparecida (The Searchers, 1956).
Depois de 13 anos afastado dos westerns, John Ford redefiniu em A Cavalgada Heroica um género até aí menosprezado e invariavelmente classificado com o ferrete do cinema de “categoria B”. Com este filme, o realizador elevou o western ao patamar da respeitabilidade e do mainstream, após uma década em que o género caíra em grande descrédito. Lutando contra a total falta de vontade dos grandes estúdios para financiarem uma produção desse tipo, e forçando o futuro produtor a aceitar o ainda obscuro John Wayne em vez de Gary Cooper, John Ford redefiniria completamente o filme de cowboys em A Cavalgada Heroica, estabelecendo o protótipo do que seria, nas décadas posteriores, um dos mais bem-sucedidos e persistentes géneros cinematográficos.
Em múltiplos aspetos um western tradicional, A Desaparecida é considerado pela crítica como um dos maiores filmes da história do cinema americano, realizado pelo mais influente dos realizadores de westerns. Mas esta obra, na sua complexidade e ambiguidade, foi um produto da cultura americana do pós-Segunda Guerra Mundial e motivou a desconstrução do mito do filme de faroeste, ao olhar sem contemplações para o racismo e para a violência brancos e buscar as suas origens sociais e psicológicas. A Desaparecida conta a história do rapto da sobrinha de Ethan Edwards (John Wayne) por índios comanches e a sua longa busca para a encontrar.
Tal como A Desaparecida, também As Vinhas da Ira se enquadra na categoria das obras-primas absolutas. Baseado no romance homónimo de John Steinbeck, vencedor de um Pulitzer, este retrato sobre a terrível situação de pobreza de muitos agricultores na América dos tempos da Grande Depressão é uma parábola de esquerda (dirigida por um realizador de direita) sobre como o filho de um meeiro, um típico arruaceiro de bar, se transforma num sindicalista.
Texto de Nuno Camacho
Este ciclo dedicado a John Ford foi um dos destaques do episódio desta semana de Duas ou Três Coisas, com João Lopes e Nuno Galopim.