https://www.youtube.com/watch?v=ysJoaiaPcoo
1.
No princípio desta semana, horas antes de 2025, um homem entrou na papelaria onde compro os jornais e disse para quem estava.
“O José Cid morreu”.
Gelei.
O José Cid tinha morrido, como era possível?
A Eugénia parou o que estava a fazer e a sua voz falou antes dela…
…“como?”
O Cid morreu, voltou a repetir, mas com um sorriso na cara.
Indignei-me.
“Mas por que está a sorrir?”
Respondeu-me atrapalhado que era uma brincadeira, que o homem não morria.
2.
Uma brincadeira de mau gosto, mas com um fundo bonito.
É que o brincalhão tinha razão numa coisa. O José Cid é uma das pessoas que não imaginamos que possa morrer.
Não é que não possa, não é que não vá, mas há qualquer coisa nele que permanece eterna.
Talvez o ter-me acompanhado ao longo da vida e parecer sempre igual.
Sempre me pareceu o mesmo, agora e há quase cinquenta anos quando o víamos a cantar “Ontem Hoje ou Amanhã”, “Cabana Junto à Praia”, “No Dia em que o Rei Fez Anos”, “20 Anos” ou “Um Grande Amor”.
Já reparaste que está igual.
Que não envelheceu?
Ou que sempre foi assim de meia idade, mesmo quando era miúdo.
3.
O José Cid tem 82 anos, fará em fevereiro 83.
E continua a cantar, a encher salas, continua insubordinado, louco, megalómano, absoluto e tantas vezes genial.
Continua a não dizer as coisas que se espera que diga, bastas vezes é injusto, outras é certeiro, não se importa com o que dele pensam ou dizem, está a borrifar-se.
4.
Sim, só depois entendi a razão do meu choque.
É que não imagino que este homem nos possa falhar.
Vejo-o na Chamusca a andar de cavalo.
Vejo-o eternamente apaixonado.
A casar e a descasar, embora me digam que assentou finalmente no quarto casamento com Gabriela Carrascalão, influente política timorense com quem deu o nó nas Caraíbas.
Este homem nunca morrerá.
Por isso, consegui sorrir quando saí da papelaria onde costumo comprar os jornais.