1.
Luciana Abreu celebrou há uns meses 25 anos de carreira.
Aos 14 ganhou um concurso televisivo. No programa “Cantigas da Rua” apostou-se que nascera uma estrela, Luciana era uma adolescente, mas havia nela qualquer coisa que a tornava especial.
Uma sombra quase impercetível, mas permanente.
Uma vontade de viver, mas também um sofrimento que se pressentia.
Uma pureza desarmante, mas também uma urgência de ser reconhecida.
2.
Começou aí a sua carreira.
E o papel de Floribella pareceu depois desenhado para si. Ela era uma “My Fair Lady” à portuguesa, uma princesinha vinda dos subúrbios para conquistar a felicidade.
O sucesso foi estrondoso.
Luciana, aos olhos dos portugueses, era a menina pobre que conseguira o sucesso, era a vingança do país real, o seu sucesso era o sucesso dos humildes.
3.
O país foi acompanhando a sua carreira.
Às vezes, fulgurante.
Outras, aparentemente num limbo.
E as revistas, sempre as revistas, a acompanhá-la na sua tragédia.
A relação violenta com o pai que a Luciana fez por esquecer recusando vê-lo durante toda a sua vida adulta.
A relação violenta com os homens que foi escolhendo, relações falhadas, difíceis e sempre sombrias.
Mas a Luciana parece tentar sempre, como se nessas tentativas estivesse implícita uma condenação em vida: o sucesso deve ser pago com a infelicidade fora dos palcos, das câmaras e das luzes.
4.
É justo que neste 2025, ano em que fará 40 anos, reconheçamos a força brutal do seu talento.
Ela dança.
Canta.
Apresenta.
E representa.
Tem graça e é intuitiva – quem não se lembra do “Último a Sair”, programa de Bruno Nogueira?
É simpática para as pessoas, para quem a aborda, gosta de abraçar quem a tenta abraçar.
É bonita.
E é isso tudo com um peso enorme aos ombros.
Luminosa quando a vida a condena a uma espécie de maldição que tenta todos os dias quebrar.
E volta a falhar.
E volta a tentar.
Sem nunca desistir de fazer a única coisa que sabe não depender de ninguém.
E aí, na sua vida de artista, é uma das mais versáteis e mais populares em Portugal.
E das mais marcadas pela sombra…
…quando as luzes se apagam Luciana Abreu continua a ser a menina desprotegida do bairro de Massarelos, sozinha no mundo e cheia de esperança de que um dia possa deixar de ter medo de voltar para casa quando a meia-noite é anunciada pelos sinos.