1.
Caro Presidente da Câmara de Lisboa.
Sabe que prezo a nossa relação.
Não devemos nada um ao outro – nunca estive dependente do seu parecer ou o Carlos me pediu o que quer que fosse.
Podia ter acontecido, não tinha qualquer mal, mas talvez seja a razão para que as nossas conversas sejam sinceras e desinteressadas.
Já o elogiei e já o ataquei.
Faz parte e é saudável em democracia.
2.
Escrevo-lhe para lhe lançar um desafio.
Sei que é difícil, que nem tudo depende da Câmara, que o Ministério da Cultura terá a sua quota de responsabilidade, que a propriedade privada precisa de ser respeitada e protegida, sei isso tudo.
Mas também sei que a sua energia e influência poderá ser determinante para resolver o problema.
3.
Falo-lhe da Academia dos Amadores de Música.
Uma das poucas instituições de relevo que vêm do século XIX. Uma instituição que atravessou regimes diferentes – nasceu na Monarquia, cresceu na República, foi ameaçada no Estado Novo e protegida pela democracia.
Nos seus 150 anos de história ali foram formados alguns dos maiores músicos portugueses.
A Orquestra de São Carlos e da Gulbenkian não teriam sido as mesmas se aquela escola não existisse e aquelas paredes não escondessem uma energia extraordinária e mágica.
4.
Foram ali alunos ou professores alguns dos maiores entre os maiores – Fernando Lopes Graça, Luís Freitas Branco, Joly Braga Santos e Emmanuel Nunes.
Mas também Pedro Ayres Magalhães e Teresa Salgueiro, os Madredeus não teriam existido se a Academia tivesse soluçado e soçobrado a algum dos seus momentos difíceis.
Foi lá que Vianna da Mota deu o seu último concerto, fez questão que assim fosse.
5.
A Academia pode morrer em agosto deste ano.
Não tem sítio para ir porque o dono do espaço, na Rua Nova da Trindade, quer fazer pela vida. Não o critico, as coisas são o que são.
Mas, caro Presidente…
… o senhor pode mover mundos e fundos, pode comprometer-se com o problema e tentar resolvê-lo.
Mesmo que falhe, se o tentar, já fez a sua parte.
5.
A Academia pode morrer em agosto deste ano.
Não tem sítio para ir porque o dono do espaço, na Rua Nova da Trindade, quer fazer pela vida. Não o critico, as coisas são o que são.
Mas, caro Presidente…
… o senhor pode mover mundos e fundos, pode comprometer-se com o problema e tentar resolvê-lo.
Mesmo que falhe, se o tentar, já fez a sua parte.
6.
Num tempo como este, tão sombrio para a cultura e o conhecimento, tão difícil para a formação de elites empenhadas
com uma ideia de progresso e tolerância, tão ignóbil e ameaçador para uma democracia todos os dias mais ameaçada…
… num tempo como este, fique de consciência tranquila.
Salvar a Academia dos Amadores de Música não salvará o mundo, mas envia um sinal simbólico nesse combate que acredito ser o seu.
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