1.
As eleições para a Presidência da República já estão em andamento no circuito das notícias e quartéis-generais. Somam-se candidatos, medem-se expetativas, ambições e fazem-se apostas e sondagens.
Há quem jure que Belém está mais do que entregue a um almirante. E há quem acredite que, no final das contas, quando o marinheiro falar, acabará por vencer um qualquer moderado sem farda.
Logo se verá, a procissão ainda nem tocou o adro.
2.
Não quero, no entanto, deixar em claro o que mais me impressionou neste aquecimento presidencial –
ou, se preferires, não quero deixar de fazer uma pergunta a que ninguém me conseguiu responder:
– O que raio terá feito António José Seguro ao Partido Socialista?
Só se este Seguro não for o verdadeiro.
O que depois de derrotado por António Costa, num processo que aliás muitos consideraram eticamente questionável, saiu de circulação e ficou corajosamente em silêncio mais de dez anos…
…se é esse Seguro que se está agora a candidatar, o que leva o Partido Socialista a humilhá-lo desta maneira?
3.
Seguro pode ser um mau candidato.
Pode vestir camisolas de “beto”, ser soporífero, não conseguir seduzir um eleitor desesperado por ser seduzido, mas que mal o homem fez para ser assim tratado?
Não será uma afronta à história do PS ver a direção socialista estar indecisa entre um ex-líder que se dignificou com o seu
silêncio e uma figura como o ilustre António Vitorino que deixou mil vezes na mão o PS em nome dos seus interesses pessoais?
4.
Não estou a criticar Vitorino, apenas me rio com o masoquismo dos socialistas que preferem quem lhes deu com os pés e os abandonou no altar uma, duas, três, quatro vezes!
Um caso que só pode ser resolvido por um psicanalista experiente, o que terá feito Seguro para ser maltratado assim pelos seus camaradas e que mel terá Vitorino para ser tão perdoado apesar de tantas traições e tantos desconchavos?
As eleições presidenciais estão em marcha.
Há quem jure umas coisas e outras.
Há quem esteja já em campanha.
E eu estou muito longe de decidir o meu voto.
Mas isto que está a acontecer a Seguro faz-me impressão.
Não por estar convencido de que a sua candidatura pode ser vencedora – sei lá eu –, mas pelo modo como os partidos funcionam, tantas vezes sem respeito pela sua própria história.