1.
Em adolescente desejou saber mais sobre o Tibete e o Dalai Lama.
E é bem possível que tenha lido a Terceira Visão de Lobsang Rampa e sabido da história de Lhasa, dos seus palácios, invernos rigorosos e monges em posição de lótus.
Certamente que terá pensado acerca da opressão chinesa, mas aposto que não lhe passou pela cabeça o que viria a ser a sua vida.
2.
Pimpim de Azevedo é portuguesa, mas Portugal tornou-se um país distante, porventura uma memória todos os dias mais longínqua.
Vive há 30 anos nas montanhas dos Himalaias.
É uma espécie de nómada… mesmo quando fica no mesmo sítio a sua cabeça e o seu corpo não pertencem a um lugar concreto, a uma casa, a uma aldeia.
Pimpim viajou para o Tibete após completar o mestrado em Ciências do Património, na University College, em Londres.
Viajou e ficou como se ali sempre tivesse pertencido.
3.
Conheceu um alemão genial, louco e idealista.
Um alemão jovem como ela.
Com André Alexander fundou o Fundo do Património do Tibete, em Lhasa.
Juntos reviraram todas as impossibilidades.
Tornaram-se influentes, aprenderam tibetano e chinês, misturaram-se com as pessoas, viveram uma segunda vida.
Pimpim restaurou edifícios históricos, mosteiros e pinturas. Aprendeu técnicas ancestrais com os velhos mestres em templos de silêncio.
Formou dezenas de artesãos.
Criou empregos e luta todos os dias pelas mulheres oprimidas de Lhasa.
4.
Alexander morreu de surpresa, em 2012.
Tinha 47 anos, mas Pimpim não desistiu.
Ainda mais convencida de que não há caminho de volta.
São mais de trinta anos nas montanhas, longuíssimas temporadas sem voltar a Portugal e a uma família que a venera, a começar pela sua irmã Maria José.
Uma portuguesa de que nos devemos orgulhar.
Com vários prémios internacionais, com distinções da UNESCO e Nações Unidas, mas desconhecida no seu próprio país.
Sei que para ela isso não é o mais importante.
É-lhe totalmente indiferente o sucesso e o reconhecimento.
Vive com muito pouco, quase nada.
Mas talvez seja ao contrário e eu esteja equivocado.
Talvez viva com tudo o que verdadeiramente interessa.
Com liberdade.
Perto do céu e dos mais pobres.
O que mais poderia ambicionar?
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