1.
As pessoas que aparecem a chorar no “Alta Definição” são todas boas?
São maravilhosas, sem mácula, perfeitinhas e bondosas?
Certamente que não.
Há gente cuja vida faz chorar pedregulhos, mas que depois, com as câmaras desligadas são más, horríveis, perversas e capazes de verdadeiras canalhices.
Pode até ser verdade o que nos contam, só que isso não interfere no modo como tratam os outros, como tramam os outros, como humilham os outros.
2.
Há pessoas que até me obrigam a contorcionismo em frente à televisão.
Conheço-os e sei o que são.
Fazem-nos chorar enquanto limpam as lágrimas.
Vendem a sua bondade como aqueles sabonetes que cheiram bem, mas que apenas resistem a um único banho antes de se desfazerem ingloriamente na água.
3.
Não é uma crítica, é uma grande notícia.
O sinal de que o Bem ainda vende… que não se subestime a agradável constatação.
Por isso, tanto me faz se são canalhas ou não.
Se tiverem uma boa estória de vida, uma estória que nos emocione e nos faça pensar sobre a nossa, já é uma evolução.
4.
Poderia dizer o mesmo de alguns postais do dia.
Quando me perguntam se determinada pessoa é assim tão boa como a pinto, respondo que não.
O “Postal do Dia”, quando o dedico a alguém, é sempre a uma parte do que na pessoa é admirável e exemplar. Alguma coisa que mereça destaque e me surpreenda… única forma de poder surpreender também quem me lê.
Tento não elogiar pessoas que sei à partida serem horríveis, essa é a minha única preocupação.
5.
Vamos lá a ver, para que não existam ambiguidades acerca do que faço ou acabo de dizer.
Só há uma coisa tão horrível como ser intrinsecamente mau.
Sabes qual?
Os que se assumem como intrinsecamente bons, perfeitos, imaculados.
Tenho mais medo desses do que dos outros, dos que reconhecemos como bestas quadradas.
Os perfeitinhos sim, são estruturalmente perigosos.
São esses estafermos moralistas que incendeiam países e consciências.
6.
Volto à pergunta inicial.
As pessoas que aparecem a chorar no Alta Definição são todas boas?
São enquanto dura o programa.
Naqueles cinquenta minutos podemos acreditar que sim, podemos comprar a sua estória e chorar lágrimas que durem toda a semana.
O resto, sinceramente, é secundário.
O resto são outros quinhentos.
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