https://youtu.be/tpTjAqBTsUM
1.
Quando vê os seus miúdos a jogar pensa em muitas coisas.
Seria capaz de apostar que no destino, em primeiro lugar pensa no destino.
É que quando os nossos filhos se tornam gigantes perguntamo-nos sempre se na nossa vida as coisas aconteceram para que eles nascessem.
É capaz de passar pela cabeça de Cândida algo assim – um amigo comum apresentara-o ao Ricardo e uma semana depois já namoravam.
Os dois jogavam andebol, os dois eram internacionais e os dois acreditaram ser amor à primeira vista.
Cândida jogava ou estava prestes a transferir-se para o Colégio de Gaia, equipa de topo no andebol feminino. E Ricardo Costa jogava ou estava prestes a transferir-se para o FC Porto.
2.
Sim, quando vê os seus dois miúdos a subir à montanha dos predestinados, talvez Cândida pense no dia em que soube estar grávida de Martim. Tinha 25 anos e era uma das melhores jogadoras portuguesas, mas para ela era óbvio que a sua carreira desportiva chegara ao fim.
Martim nasceu e Cândida deixou de jogar.
Dois anos e meio depois veio Francisco a quem todos chamaram Kiko.
3.
Martim e Kiko Costa, com 22 e 19 anos, são já considerados dois dos melhores jogadores do mundo.
Dois dos mais cobiçados.
E são treinados pelo seu pai num Sporting que quebrou a hegemonia do FC. Porto graças a este milagre.
Um pai e dois filhos predestinados com uma mãe na bancada a pensar alto e neste Campeonato do Mundo com as lágrimas
presas nos olhos do orgulho naqueles miúdos que parecem competir entre si para irem mais longe do que alguém foi antes.
Os miúdos para quem o andebol está colado à pele e em cada uma das suas memórias. Em bebés já iam ver o pai a jogar, deitados na alcofa levantavam a cabecinha quando Cândida lhes dizia “olhem o papá”.
Os miúdos que partiram vidros e mobília nas casas por onde passaram, casas transformadas em campos abertos de treinos de roscas e remates indefensáveis.
Filhos que superaram um pai todos os dias mais orgulhoso e surpreendido com a genialidade de cada um deles.
E uma mãe que se sente recompensada em cada golo e em cada assistência dos seus meninos feitos a régua e esquadro para ajudar Portugal a fugir ao destino a que parecia condenado numa modalidade que não parecia talhada para nós.