1.
Joguei basquetebol vários anos e imaginava ser como o Carlos Lisboa.
Tive oportunidade de lhe dizer.
Não faço ideia se acreditou no que lhe jurei ou se achou ser mel para os seus ouvidos, não é importante.
Muitos lhe devem ter dito coisas próximas a essa e eu não me importo nada de ser mais um.
2.
O Carlos é único.
E aposto que na sua cabeça revê mentalmente os grandes jogos da sua vida.
Os triplos impossíveis.
Os pavilhões a gritarem em uníssono…
“Cheira bem, cheira a Lisboa”
Os muitos e muitos campeonatos que conquistou.
As noites de glória no antigo Pavilhão da Luz.
As homenagens que lhe fizeram, a sua camisola no museu, até um busto pode ser admirado.
3.
Também acredito que se deve lembrar dos tempos de treinador, dos títulos, também das polémicas.
Dos primeiros jogos de menino na antiga Lourenço Marques, terra moçambicana a perder de vista, do cheiro do chão fértil, dos pais e do retorno a Portugal, a uma metrópole que deixara de ser metrópole, lugar que conhecia só de ouvir falar.
Acredito que o Carlos se deve recordar dos tempos mais difíceis, das dúvidas que teve em criança, dos amigos que deixou em Moçambique.
4.
Carlos não é um homem que chore.
Ou, pelo menos, não o faz à vista dos outros.
Mas acredito que há uma imagem ainda mais forte do que todas as que lhe aconteceram, uma que muito dificilmente não o fez chorar.
Mais uma vez imagino-me no seu lugar.
A imagem do seu filho mais velho a marcar triplos, a fazer assistências, a tornar-se também uma referência desportiva do país.
Imagino Carlos a ver Rafael a jogar de igual para igual com alguns dos melhores jogadores do mundo, imagino-o mais comovido do que alguma vez esteve, imagino-o a telefonar-lhe a seguir, a ouvi-lo nos pormenores, a dar-lhe conselhos de pai.
Foi o que pensei ao vibrar com Rafael Lisboa no Campeonato da Europa de Basquetebol – mesmo com a presença do maravilhoso
Neemias, o filho do Carlos conseguiu ser o mais luminoso jogador da seleção.
E o Carlos, que não fuma ou bebe, talvez tenha aberto uma exceção e provado a garrafa de champanhe guardada nos fundos de um armário esquecido.
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