1.
Já passaram uns dias pelo teu aniversário.
Deve ter sido bom, com os teus filhos, mulher, amigos, família próxima e a mãe Dolores a quem deste a possibilidade de ser uma princesa em vida.
Querido Cristiano, o tempo é uma coisa do outro mundo.
Até me parece ter sido ontem o jogo em que rebentaste sozinho com a equipa do Manchester United, nessa noite já não dormiste em casa, um avião levou-te para Inglaterra.
Tinhas 18 anos e partiste para não mais regressar.
2.
Fizeste 40 anos e és um farol para tantas pessoas que não a têm – acredito que tens noção disso, que o sabes, que o vês como uma responsabilidade.
Há miúdos palestinianos que voltaram a jogar à bola em Gaza, alguns têm o teu nome nas costas como o pequeno Said que faz trivelas no campo de Majdal Shads e grita golo como tu gritas.
Há miúdos judeus que nas escolas de Telavive ou Jerusalém têm a tua camisola como o pequeno Lavi que tenta bater os livres como tu os bates.
3.
Fizeste 40 anos e não nos pertences.
Deixa-me dizer-te uma coisa que te fará sorrir ou discordar, mas nem tu próprio és dono de ti – és do mundo, és um dos poucos a quem o ódio vira costas como se o teu nome fosse um milagre, significasse paz e esperança.
Há crianças ucranianas com a tua camisola 7.
E crianças russas a chorar para que as mães lhes comprem um equipamento com o teu nome nas costas.
Há fascistas e comunistas a jogar à bola e a dizer “simmm”.
Há brancos, pretos, amarelos, indianos que seguem a tua vida como se fosses família.
Há assassinos e anjos na terra que gritam os teus golos.
Há pobres e ricos.
Há miúdos todos os dias com fome, mas que ganham força com a força que tiveste quando nada te era fácil.
Conseguiste tanto, meu amigo que não conheço, conhecendo.
Muitos parabéns, Cristiano.