Passou um vento estranho sobre um título de jornal. Não é alíseo, este vento que faz voar tituleiras, na edição digital do jornal O Minho. Talvez tenha soprado com a depressão Jana, pode ter entrado, agreste, pela janela entreaberta em plena tempestade. Não podemos sabê-lo, não há avisos amarelos para as tituleiras de jornal.
Demora um minuto a ler este relato de mau tempo no litoral norte, mas o título fica a soprar um pouco mais, em torvelinho. Há uma imagem captada numa rotunda de Areosa, perto de Viana. Ervas bravas curvadas pelo temporal e um enorme painel de propaganda rasgado, a lona sacudida perigosamente pelo vento, ameaçando os automobilistas que passam.
A primeira imagem capta a parte de trás do grande painel, não sendo perceptível senão o que verdadeiramente é relevante: um enorme painel publicitário em riscos de ser levado pela força do vento, em pleno temporal. O título dá-nos, entretanto, uma outra precisão: “Cartaz do PS ameaçou automobilistas”. É uma precisão de que não precisamos. Não era preciso.
Numa outra imagem temos um plano mais largo da rotunda. O mesmo cartaz de costas, periclitante, um sinal vermelho e, no lado oposto da rotunda, um cartaz do Chega, poupado pelo vento intempestivo.
Não se presume, nesta arrumação da tempestade, um tufão subliminar. Um criador de títulos não é, não tem de ser, um Éolo a todo o tempo visitado por Odisseu com a sua saca de ventos.
Mas por vezes, como num certo poema do Pessoa, “sopra demais o vento / para eu poder descansar”.
A circunstância de aquele ser um cartaz tecendo loas ao PS não assaca responsabilidades a tal organização, mesmo se, ironicamente, a mensagem que ele pretendia transmitir usa a ideia de CULPA com uma eficácia discutível. A ironia é, neste caso, rotunda: em frente ao cartaz estraçalhado permanece incólume um outro enaltecendo quem a todo o tempo semeia ventos. Uma sondagem hoje divulgada sugere que os semeadores de ventos podem colher em breve a sua dose de tempestade. Bóreas tem humores imprevisíveis.