1.
O postal de hoje não é um postal, é mais um desabafo de fim de tarde, uma melancolia súbita, talvez uma tristeza que também não é bem isso…
… falo de mim, mas aposto que de ti, não somos muito diferentes, quase aposto que não o somos.
É que às tantas corremos o risco de nos transformar numa máquina indomável de culpa que nos pesa nos ombros e na cabeça.
2.
A culpa de não sermos os pais que desejámos ser.
Ou a culpa por nos termos abandonado em nome dos filhos.
A culpa de uma relação em que deixámos de investir.
A culpa de já não desejarmos como antes.
Ou de termos pensamentos de que não nos orgulhamos.
Ou de não sermos bons amigos para os nossos amigos.
Ou de não nos apetecer sair do sofá.
Ou de não vermos aquela série de que todos falam.
A culpa por dizermos que gostamos do que não suportamos.
De não nos apetecer o almoço de domingo em casa dos sogros ou dos pais.
De termos de dizer que o nosso pai ou a nossa mãe estão num lar
Ou de sentirmos que passámos ao largo do que sonhámos para nós.
Ou de não termos agarrado aquela oportunidade, aquele beijo, aquele sinal, aquela dança, aquele contrato.
3.
Falo de mim, mas aposto que de ti.
Não necessariamente estas culpas que enumerei sejam as tuas ou as minhas.
Mas podia continuar neste relambório que não nos leva a lado nenhum.
A vida é demasiado curta e não há qualquer motivo para que a desejemos insuportavelmente longa por ser feita de sofrimento.
E se vivêssemos sem esse carrego de alma que nos atropela as entranhas?
E se vivêssemos a tentar fazer o melhor possível, a aceitar o que a vida nos propõe, a assumir os erros inevitáveis e a abraçar os grilos falantes que nos falam ao ouvido para nos embaraçar com a sua maldita metafísica?
Tenho experimentado correr de manhã, sorrir durante o dia e viver o melhor que consigo com o mínimo de peso possível.
Experimenta comigo e logo falamos.