1.
Faz hoje 15 dias que o mundo conheceu o novo Papa.
Esperei 15 dias para te trazer Robert Francis, americano de Chicago, 69 anos, da Ordem de Santo Agostinho.
Esperei duas semanas para te dizer com segurança que este homem sacrificou a sua vida por ter acreditado que Jesus estava no seu caminho.
Um dia, quando estudava para padre perguntaram-lhe que sacerdote gostaria de ser.
E o jovem Robert Francis, bonito e convicto, respondeu que tinha a ambição de ser um padre capaz de abdicar de toda a matéria, de todas as roupas caras, de todos os perfumes, de tudo o que o afastasse do homem que resolveu seguir.
2.
Repara, isto não são palavras.
Coisas que se dizem.
Paliativos contra as certezas de alguns que logo vieram ao pátio do mundo jurar que Trump mandava no Vaticano ou que a eleição traíra os ideais de Francisco.
Robert Francis não é um padre qualquer.
É alguém que cumpriu o que um dia prometeu no seminário.
Sacrificou-se pelos mais pobres.
Sacrificou a sua condição burguesa, a sua tranquilidade e conforto, para viver no Peru numa cidade a 800 quilómetros de Lima, a capital.
3.
Amparou trabalhadores explorados na apanha da cana de açúcar.
Dormiu em barracos de gente sem água canalizada.
Protegeu mulheres violentadas, arregimentou vontades para que casas de tijolo fossem construídas, para que escolas tivessem professores, para que às mães não faltasse leite, para que aos homens não faltasse trabalho.
Os peruanos de Chiclayo faziam fila para ouvir uma sua palavra, para receber a hóstia e o seu sorriso, a sua esperança, o seu exemplo.
No Natal levavam-lhe cabrito e o pato que durava para o resto do Inverno.
Na Primavera levavam-lhe as crianças para ele as abençoar.
E todas as semanas Robert Francis comia em casa de algum pobre, de alguém que o sentava como se fosse família, de alguém que comia dos seus pratos gastos, da sua comida humilde, da sua pinguinha caseira.
4.
Passaram 15 dias e já vos posso dizer que Leão XIV é precisamente este padre.
Um homem distinto que fez voto de pobreza e se dedicou ao fim do mundo, aos que nasceram sem acesso às frutas suculentas do Éden.
Por isso, houve felicidade em Chiclayo.
Por isso, as pessoas saíram à rua com tachos e panelas.
Por isso, ouviram-se gritos e viram-se lágrimas entre os índios peruanos, entre os trabalhadores cansados da cana de açúcar, entre as mulheres com filhos ao colo.
Até entre os presos houve quem batesse nas grades.
Por isso, não admira que tenha dito, fez hoje 15 dias, que a Igreja pode trazer luz às noites escuras e deve ser julgada pela santidade dos membros e não pela grandeza dos edifícios.
Nada de mais certeiro.
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