1.
Não sei por estes dias sobre o que me entristece mais…
… não sei se o meu espanto é maior por estar a ver o mundo a desmoronar-se ou por observar o quanto em Portugal parecemos estar numa realidade paralela.
Na generalidade dos países europeus discute-se o futuro do futuro, discute-se se nos devemos armar e se os nossos filhos e netos têm à sua frente o que nos chegou a parecer impensável: voltar à guerra, tornar a pegar em armas.
E o que está na primeira linha das nossas discussões?
As táticas de uns e de outros, as moções de censura e de confiança, um primeiro-ministro que tem para nosso espanto empresas e clientes, as juntas de freguesia que, afinal, se vão manter como estão e um novo candidato presidencial que surge todas as semanas.
2.
Nos dias em que Israel proibiu todas as ajudas humanitárias em Gaza ou que foi divulgado o vídeo promocional de um território livre de palestinianos, um gigantesco resort em Gaza, Luís Montenegro falou ao país acerca de qualquer coisa incompreensível.
Nos dias em que Trump tenta humilhar o presidente da Ucrânia, em que a NATO entrou nos cuidados intensivos e a Europa passou a estar à mercê da tirania, colocamos a hipótese de fazer cair o governo e de marcar novas eleições.
3.
O mundo colapsa e os nossos políticos estão entretidos a brincar às casinhas e ao monopólio.
Vemos a América a aliar-se com a Rússia.
Musk a preparar as suas tropas no céu.
Imigrantes algemados e de grilhetas nos pés recambiados para uma casa que já não existe.
Mas no nosso parlamento nada disto se discute, como se não fosse relevante.
4.
Não podemos andar com o peso do futuro às costas, arqueados, tristes e depressivos, mas temos a obrigação de pensar sobre o que está em jogo neste momento.
E temos a obrigação de exigir aos nossos governantes e deputados, eleitos para nos representarem, o compromisso de separarem o acessório do essencial.
Quero saber o que está a ser pensado, quais as hipóteses em cima da mesa, o que implica investir na Defesa, quais as nossas linhas vermelhas, o que pensamos do que está a acontecer.
Não me parece que seja pedir muito.
É o tempo para crescermos todos um bocadinho, o tempo para nos deixarmos de comportar como se estivéssemos numa juventude partidária a entalar a oposição ou a entalar a lista que ganhou a associação de estudantes.
Há um cheiro de morte, de terror e de sofrimento no ar.
Não o sentem?
Ou é preciso fazer um desenho?